Em memória de Zumbi dos Palmares - Por Símia Zen.


Rapazes,

Venho nesta carta lhes trazer uma lembrança de uma passagem de nossa conturbada historia brasileira com especial destaque à Zumbi dos Palmares, um dos ícones nacionais de coragem, altruísmo, inteligência, perseverança e amor a liberdade. Creio que todos já ouviram falar de sua saga, mas é sempre bom relembrarmos esse brasileiro admirável para que nossos jovens tenham mais referenciais positivos a se espelharem, porque infelizmente nós brasileiros conhecemos mais as sagas dos heróis estrangeiros do que a dos heróis conterrâneos, cristalizando assim a ideia de que o homem brasileiro é menos dotado de virtudes  ante aos demais do planeta, e isso não é verdade. Também por isso é necessário mantermos viva a memória honrosa de nossos heróis, pois mesmo sendo feriados nas datas relacionadas a eles no calendário cívico oficial e eles sejam citados nos livros escolares, ainda assim, a vida, obra e os positivos exemplos de nossos bravos geralmente são desconhecidos pelo grosso da população brasileira. Desta forma, sobretudo por senso de patriotismo e justiça, me propus a incluir a minha correspondência a vocês essa simplória lembrança.

No caso do herói Zumbi sei que no mês de novembro em alguns pontos do nosso imenso país se comemora seu aniversário de morte, mas em outros ele sequer é mencionado e o site RM tem um raio de penetração nacional, daí, eu, uma brasileira garbosa do que é bom no meu país, abaixo prossigo...   


Caríssimos patrícios, segundo pesquisadores sérios,na madrugada do dia 20 de novembro de 1695, o herói da resistência antiescravista Zumbi dos Palmares, último líder supremo do Quilombo dos Palmares, aos 39 anos foi traído por Antônio Soares, um dos seus comandados de confiança, e assim foi assassinado na Serra Dois Irmãos em Alagoas junto com seus companheiros leais pelo bando mercenário de Domingos Jorge Velho. De acordo com tais pesquisas Zumbi nasceu livre no quilombo dos Palmares em 1676 e com menos de um ano de idade foi raptado pelo comandante de guerra Brás da Rocha Cardoso na primeira expedição de ataque a Palmares, e por ele dado de presente ao padre português Antônio Melo em Porto Calvo, distrito fronteiriço entre o mundo luso-brasileiro e o mundo palmarino.  Padre Antônio batizou o menino com o nome de Francisco e lhe ensinou português e latim, aos dez anos de idade já conhecendo bem o latim Francisco se tornou coroinha. Aos quinze anos Francisco voluntariamente saiu de Porto Calvo para o quilombo dos Palmares, ali foi renomeado como Zumbi e constituiu-se aos vinte anos de idade como um dos mais proeminentes oficiais militares do exercito do rei Ganga Zumba.

O Zumbi era franzino, feinho e coxo de uma perna por causa de ferimento a bala num combate com a expedição de ataque a Palmares chefiada por Manuel Lopes Galvão e ainda assim um exímio capoeirista. As pesquisas levam a crer que Zumbi foi pai cinco filhos com mulheres palmarinas. Curiosamente, numa invasão para libertar escravos de uma fazenda Zumbi foi seguido voluntariamente por uma mulher da família dos fazendeiros de nome Maria, a qual o seduziu e se tornou sua concubina. Em outras pesquisas sobre a vida de Zumbi, inclusive em cânticos populares da tradição negra de comunicação oral, há fortes indícios que a única amada de Zumbi foi a oficial militar e mártir da resistência antiescravista Dandara dos Palmares e que esse sentimento tenha sido recíproco, pois na curta vida que tiveram Zumbi e Dandara foram parceiros de leito e de guerra, há suspeitas que tenham tido três filhos juntos que eram preservados da vida publica por segurança, dado as funções de seus pais no quilombo.

Devido a incompatibilidade de propósitos e ideais, Zumbi e Ganga Zumba dividiram as opiniões no quilombo dos Palmares, pois houve uma intrincada trama dos senhores escravocratas e da realeza para acabar com o quilombo dos Palmares, nesta trama fazia parte um acordo com Ganga Zumba que Zumbi não aceitou por preferir a liberdade e autonomia de Palmares. Zumbi não acreditou que os termos seriam cumpridos e ao final os palmarinos seriam escravizados em favor de um pequeno grupo mais ligado a Ganga Zumba, Zumbi resolveu ficar e lutar pela vida livre de Palmares, muitos foram embora com o Ganga Zumba, muitos ficaram com Zumbi, que então se tornou o chefe supremo, Palmares a partir disso verteu-se numa cultura mais militar. O tal acordo não deu certo e foi como Zumbi havia previsto inclusive o rei foi morto envenenado. A partir disso o quilombo foi atacado diversas vezes sem sucesso, pois o exercito palmarino, liderado por Zumbi e seus oficiais era imbatível, no entanto num esforço conjunto dos interessados em acabar com Palmares houve investimentos de recursos absurdamente superiores em armamentos e quantidade de homens do que dispunha Palmares e assim conseguiram invadir o quilombo em seus vários povoados até sua capital, Macaco. Dentre muitos ditos, reza a lenda que Dandara lutou capoeira derradeiramente junto com outros guerreiros dando fuga a muitos palmarinos inclusive a Zumbi que constatando a invasão saiu com seis dos seus vinte oficiais pelas encostas na busca de formar um novo exercito e retomar Palmares posteriormente, Dandara neste embate final, defendendo a liberdade de Palmares e a dela própria, preferiu a liberdade e obteve sucesso, pois logo quando os invasores estavam por captura-la lançou seu corpo ao precipício do limite do penhasco onde havia encaminhado o combate a fim de ter tal alternativa no momento certo, desta forma não foi capturada, não contou o plano de Zumbi, nem foi transformada em escrava, deixou seus inimigos a ver navios...

Infelizmente sempre tem um fraco no meio dos bravos para traí-los e estragar um bom plano, e assim por volta de um ano depois,Antônio Soares, que era um quilombola de confiança de Zumbi, acabou levantando suspeitas de que Zumbi estava vivo. Soares foi torturado e não revelou o plano em curso, mas com oferta de liberdade e conforto se corrompeu e na madrugada de20 de novembro de 1695 levou Domingos Jorge Velho, chacinador de índios, e seu bando mercenário ao esconderijo de Zumbi e seus companheiros e chamou-o, Zumbi reconhecendo sua voz o acolheu com um abraço, Soares o abraçou e sorrateiramente o esfaqueou, Zumbi não matou Soares, que morreu de morte natural, velho, livre,no conforto e na desonra histórica. Zumbi mesmo perplexo e decepcionado teve forças para lutar capoeira contra seus inimigos ainda que cortado pela faca do seu covarde amigo, o qual pelo menos poderia ter-lhe matado para negar à nefastidão escravocrata a autoria deste feito, mas o bosta corrupto não o fez. Os cinco bravos guerreiros que acompanhavam seu líder foram mortos pela fuzilaria no momento da traição de Soares, Banga sobreviveu para sua infelicidade, mas Zumbi lutou capoeira banhado de sangue por vários ferimentos de bala e facadas e abateu um e feriu muitos homens fortemente armados no combate corporal e o bravo capoeira em luta desencarnou.

Depois de morto o corpo de Zumbi com 15 furos de bala e inumeráveis punhaladas, teve a mão direita e um dos olhos retirados e foi castrado, propositalmente os mercenários arrancaram o pênis de zumbi e anexaram a sua boca a fim de zombar do herói depois de morto e para bajular os inimigos de Zumbi e desmobilizar represarias da população insatisfeita com sua morte, já que qualquer alusão a homossexualidade nesta época era motivo de escarnio, desonra e inferioridade e as piadas que viriam por conta da imagem de Zumbi com pênis na boca garantiriam tal alusão, alusão que por conta desses expediente de Jorge Velho Zumbi algumas pessoas desavisadas fazem  sem saber do por que até os dias de hoje, o fato é que as pesquisas feitas por   historiadores para levantamento de sua biografia não encontraram ainda  indícios de  que Zumbi mantivesse relações homoafetivas, aliás, o que não seria condenável nos ambientes de tradições de culturas africanas antigas já que o homossexualismo na antiguidade em geral era concebido como uma prática normal, mas para a sociedade senhoril da época era uma prática intolerável e Zumbi não parecia ser um homem muito preocupado com a aprovação de sociedades escravocratas, portanto nada o impediria de homo efetivar abertamente, mas independente das especulações quanto a sua  intimidade sexual, o que é comprovado na história no Brasil é que a cabeça de Zumbi, com o pênis na boca, foi levada conservada no sal para Recife, PE, onde ficou exposta na principal praça pública fincada num mastro até sua total decomposição e isso em nada pode ser motivo para piada se sim para termos é muita vergonha do Brasil escravocrata.

Bom... Aqui no aconchego do meu lar fico pensando... Quantos de nós se vivêssemos em época tão grotesca não estaríamos neste exato momento com sede e fome sangrando num pelourinho? Quantos de nós não teríamos a liberdade de ir e vir e a posse de nossos corpos?  Quantos não seriam rastejantes e vis capitães do mato? Quantos não seriam sinhôs e sinhás vampirizando a Vida de outros seres humanos?  Ufa!  Ainda bem que o Brasil daquela época passou e que fique passado... Que bom que existiu o Zumbi e tantos e tantos heróis famosos e anônimos que lutaram para libertar o Brasil da vergonhosa condição de pais da injustiça escravocrata... Mas  a maldição deste período de injustiça, ignorância e horror ainda não acabou de vez, porque deixou suas sequelas, a serem superadas, na política, na economia, na genética, nos valores, hábitos e costumes, nas interpelações entre conterrâneos, na cultura  da população brasileira em geral... Mas isso é uma outra historia dentro da historia de histórias do nosso Brasil...

Conterrâneos de Boa Fé espero ter contribuído um pouco com nossa auto-estima telúrica nos lembrando de uma prova deque a nossa terra assim como as outras também dá filhos corajosos defensores da liberdade que assumem responsabilidades com mérito para isso... Valeu Zumbi!

Fraternamente,
Símia Zen.

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Bibliografia consultada:
Décio de Freitas - Palmares: A Guerra dos Escravos, Ed. Graal, 4ª edição, RJ, 1990.
 Joel Rufino dos Santos - Zumbi, Ed. Moderna 1ª edição, SP, 1985.
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Posted 30th November 2011 by Shâmtia Ayômide
Labels: Simia Zen Cultura
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Fonte: Texto originalmente publicado no site Reflexões Masculinas - Revista Online sobre o Homem e a Masculinidade -  http://reflexoes-masculinas.blogspot.com.br/2011/11/em-memoria-de-zumbi-dos-palmares.html
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2 comentários:

Anônimo

Perfeito!
Julio.

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