Entrevista com Filipe do Amaral Monteiro: A Militaria.



Fraternas,
Para conhecermos um pouco mais sobre a Militaria e assuntos correlatos, publicamos a entrevista gentilmente concedida por um homem vocacionado ao militarismo: Filipe do Amaral Monteiro, 25 anos, paulista da capital, condecorado pela Associação de Ex-Combatentes da Segunda Guerra Mundial com a Medalha Expedicionário. 

Espero que gostem da entrevista e que também lhes seja útil na educação de suas filhas e filhos, nos seus relacionamentos com os homens de suas convivências e quanto cidadãs brasileiras.




O Filipe:



SZ: Qual é sua formação acadêmica?

Filipe do Amaral Monteiro: Estudei logística na Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e liderança na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).



SZ: Qual é experiência como militar e quais são seus planos futuros no campo da militaria?

Filipe do Amaral Monteiro: Servi à Marinha do Brasil fazendo parte do Corpo de Fuzileiros Navais, passei pelo famoso Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA) no Rio de Janeiro. Depois eu fui transferido para o Rio Grande do Sul e cumpri o resto do meu contrato no Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande. Escrevi para a revista Tecnologia & Defesa e sou sócio e colaborador benemérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHMTB). Fui condecorado pela Associação de Ex-Combatentes da Segunda Guerra Mundial - Seção São Paulo com a Medalha 'Expedicionário' por serviços prestados à preservação da memória dos ex-combatentes. A AHMTB também vai me condecorar (Medalha Dragões das Minas). Pretendo me alistar na Legião Estrangeira Francesa para participar de operações de combate.



SZ: Poderia nos esclarecer sobre o que significa para você, em seu íntimo humano sentimental, sua condecoração com a Medalha Expedicionário?

Filipe do Amaral Monteiro: Pra mim não foi nada extraordinário e fiquei satisfeito com o reconhecimento, mas o que realmente me motivou foi que o Major Samuel me indicou para receber a medalha e a admiração que eu sinto por ele é enorme. Ele faleceu em outubro. Vou transcrever o que diz no diploma da minha medalha:

‘Diploma da Medalha “EXPEDICIONÁRIO”

A Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção de São Paulo, em reunião de sua diretoria, resolveu conceder a Medalha “EXPEDICIONÁRIO”, registrada conforme Boletim Nº 25 de 23 de junho de 2004, código 463 do Departamento Geral do Pessoal do Exército a Filipe do Amaral Monteiro por serviços prestados à Associação, às Forças Armadas e ao culto da epopeia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial.

São Paulo, 29 de junho de 2012.’




SZ: Na foto que ilustra esta entrevista há um digno senhor ao seu lado, quem é ele, o que ele significa para as Forças Armadas do Brasil e para você em especial?

Filipe do Amaral Monteiro: Ele é o Major Samuel Silva, um veterano da Força Expedicionária Brasileira e um herói para as Forças Armadas - apesar de pouco conhecido. Ele foi condecorado com a Cruz de Combate 1ª Classe por bravura na Segunda Guerra Mundial, além de várias outras citações honrosas em boletim (isso é muita coisa no meio militar). Ele, como todos os febianos, sofreu por inveja dos demais militares do Exército que não lutaram na guerra porque fugiram. Ele só recebeu essa medalha anos depois d o conflito acabar. Não foi muito diferente com vários outros. Infelizmente, o Brasil é um país onde sempre sobrou inveja e sempre faltou grandeza. Ele sempre foi um modelo de militar e de conduta para mim, sua morte foi um triste acontecimento e eu fico muito infeliz de não ter conseguido transcrever suas memórias como nós vínhamos planejando.




SZ: Como assim ‘fugiram’? Você poderia explicar melhor?

Filipe do Amaral Monteiro: Fugir do serviço militar sempre foi uma tradição nacional, especialmente em caso de guerra. Tanto os mais abastados quanto os oficiais de carreira conseguiram subterfúgios para escapar da Força Expedicionária (FEB), e assim, da guerra. O 2º Tenente Gérson Machado Pires, fez o seguinte depoimento ao término do seu curso na Escola Militar do Realengo (formadora de oficiais de carreira do Exército na época):


“Botaram no quadro negro os nomes [dos formandos], pedindo quem ia ser voluntário para a FEB. O primeiro da turma não quis ir. O segundo da turma não quis ir. O 15º, esse quis ir. Ninguém da minha turma tem moral para dizer “não fiz a guerra porque não me mandaram”. “Se não foi, foi porque não quis”

Esse relato está na página 349 do livro “Nova História Militar Brasileira” e foi colhido em entrevista feita pelo historiador Cesar Maximiano Campiani. Na mesma página, o tenente Gonçalves coloca o corpo de oficiais em 20% de oficiais de carreira e 80% de oficiais da reserva.



 SZ: Como foi sua educação familiar e religiosa?

Filipe do Amaral Monteiro: Minha formação foi muito bem estruturada e proveniente de uma família nuclear clássica (casal e três filhos). Minha mãe me educou da melhor forma possível e sempre dentro da moralidade e da ordem. Minha mãe é formada em pedagogia e em letras e sempre foi uma mãe exemplar que soube aplicar seus conhecimentos na minha formação. Foi graças a ela que eu adquiri este gosto por leitura que é tão anormal ao brasileiro médio. Estudei em escolas particulares, primeiro no Colégio Batista Brasileiro e depois no Colégio Objetivo (Teodoro e Vergueiro). Minha criação religiosa foi na Igreja Batista do Povo. Apesar de ser ateu, tenho como algo que me é muito caro a formação cristã que recebi.



SZ: Quais são suas posições políticas-filosóficas?

Filipe do Amaral Monteiro: Direita, libertária e democrática. Sempre a favor do império da lei e da ordem. Da proteção à família como base da sociedade, e dos papéis tradicionais do homem e da mulher na sociedade. Da parte filosófica, devo muito ao Cristianismo como agente civilizador e gosto muito de ler e assistir ao Professor Olavo de Carvalho. Mas o meu prazer verdadeiro é a leitura sobre militaria, geralmente livros de autores estrangeiros.



 SZ: Como se define?

Filipe do Amaral Monteiro: Sou aquele amigo que todos amam e odeiam ao mesmo tempo. Faço brincadeiras sem noção, mas quem me conhece sabe que não tem malícia. Dizem que sou reservado, as pessoas raramente sabem o que eu estou pensando - as mulheres me dizem que isso me faz "misterioso". Como cidadão eu sou aquele cara que não joga lixo no chão e não desrespeita as regras, mas se nenhum carro estiver passando eu atravesso no verde e fora da faixa sem maiores dores de consciência.





Sua participação nas reflexões sobre as demandas existenciais masculinas:




SZ: Quando iniciou e como está sendo sua trajetória nas questões masculinas no campo virtual?

Filipe do Amaral Monteiro: Começou no Orkut em uma comunidade chamada "O Lado Obscuro das Mulheres", onde se falava de um autor de livros sobre a lida com as mulheres - os quais ainda não li. No início era interessante, mas o aumento de garotinhos frustrados me cansou e fui para o site Reflexões Masculinas. Lá o público era mais velho e mais maduro. Eu mais "ouvia" do que comentava.




 SZ: O que o motivou a atuar nas questões masculinas no campo virtual?

Filipe do Amaral Monteiro: O que mais me espantou foi a baixa resiliência dos adolescentes, eu tentei motivá-los um pouco e ajudar de forma didática no que fosse necessário. Enfatizei a virilidade, a resistência psicológica e o orgulho que devem ter de serem homens.



SZ: Quais são seus referenciais teóricos ou não sobre as questões masculinas no campo amoroso e na vida em geral?

Filipe do Amaral Monteiro: Primeiro a minha mãe, ela me deu uma noção excelente dos papéis sexuais na sociedade. Em segundo vêm os "mestres" que tive na academia dos 15 aos 19 anos: Primeiro o Atílio, quem mais me ensinou sobre como tratar as mulheres, como falar com elas e etc. Depois os "mestres" da Academia Body Station: Átila, Túlio, Fernando e Alê. Havia também o 'Mestre', que de tanto chamá-lo assim não lembro mais o nome dele. Ele era fisiculturista e me ajudava no treino. Aos 20 anos eu estava no CFN e os meus exemplos eram os cabos e sargentos, especialmente do Batalhão de Operações Especiais. Nomes que eu não posso esquecer são: C abo P. Silva, Cabo Júlio, Cabo Junior, Sargento Valverde, Sargento Frank, Sargento Valdir, Sargento Augusto e o Sargento Roberto. Houve outros, mas esses foram os principais. Um homem famoso que eu admiro em particular é o General Charles de Gaulle, um homem íntegro, corajoso, historiador e dotado de uma excelente memória. Tanto na teoria, nos livros ou na prática, quando algo parece difícil eu apenas penso "Respire fundo e seja bravo"; tal como disse Ovídio tantos séculos atrás em seu livro "Amor", "O amor é como o serviço nas legiões: pra trás os covardes!".




Suas ideias e posicionamentos:



SZ: De acordo com seu discernimento qual é a diferença entre agressividade e violência?

Filipe do Amaral Monteiro: Agressividade é espírito ofensivo. Violência é a violência nas ações, isto é, o ímpeto com que se ataca o inimigo de forma a sobrepujá-lo e impor sua vontade sobre ele. É por causa disso que o treinamento militar precisa ser um exercício psicofísico duro e eficiente. Na guerra o que importa é vencer, o inimigo não será "bonzinho" com ninguém. Quando um sargento grita na cara de um recruta, ele está moldando sua capacidade de suportar agressividade interpessoal.



SZ: Acredita que o Brasil é um país pacifico e o homem brasileiro é pouco agressivo e pouco violento?

Filipe do Amaral Monteiro: Não. O Brasil é desorganizado e violento. Teve poucas guerras externas por causa dos nossos vizinhos, que são débeis e fracos. Mas internamente, apenas na época de Dom Pedro II, entre o fim da Guerra do Prata (1851/52) e o início da Guerra da Tríplice Aliança (1864/70) podemos dizer que o Brasil viveu em tranquilidade. No restante do tempo estamos sempre imersos em índices absurdos de violência. Especialmente entre os homens jovens de 15-25 anos.




SZ: Em sua opinião qual é a importância do patriotismo num homem e o homem brasileiro é patriota?

Filipe do Amaral Monteiro: Se existe algo que garante o progresso é a identidade nacional, e para isso é preciso amor pela sua pátria. Só se ama o que se respeita, e apenas se respeita o que ao menos se conhece. Não, o brasileiro não é patriota.




SZ: Acredita que o território nacional deveria ser repartido entre os estados de maneira a formar países distintos e totalmente independentes política e economicamente?

Filipe do Amaral Monteiro: De forma alguma! Qualquer plano de separação desse país é uma sandice e qualquer movimento nesse sentido deve ser combatido sem trégua. O país é uno e indivisível.  O que deve existir é uma maior autonomia estadual, permitindo que os estados do sul e sudeste possam utilizar suas riquezas para seu próprio progresso, ao invés de entregar vastas quantias para os buracos negros usados como currais eleitorais. São Paulo agradece.




SZ: O que pensa sobre o porte de armas para civis?

Filipe do Amaral Monteiro: Deve ser liberado o quanto antes. O cidadão armado aumenta a segurança pública e diminui a violência. A impunidade e atrevimento dos meliantes são garantidos pela política de tolher o direito de portar armas pelo cidadão ordeiro. Se armas registradas gerassem violência, a Suíça seria o verdadeiro inferno. Recentemente os bombardeios da mídia desarmamentista voltaram em força total com o triste acontecimento na escola de Newton, nos Estados Unidos. As escolas americanas seguem a política de banir armas há anos e isso apenas aumentou o número de atentados. Se as escolas tivessem homens armados com ordens para usar força letal contra quaisquer agressores que tentassem machucar as crianças, o incidente não teria acontecido. É assim que é em Israel, em 10 anos morreram apenas oito crianças israelenses atacadas por terroristas enquanto estavam na escola porque os adultos andam armados. Nos EUA foram mais de 300. O psicopata Wellington, autor do Massacre de Realengo só foi parado com o disparo heroico do 3º Sargento da Polícia Militar Márcio Alexandre Alves. Se armas aumentassem a violência, psicopatas atacariam quarteis das Forças Armadas em vez de escola de nível fundamental.




SZ: Mas os civis não poderiam se machucar portando armas? O uso de armas não deveria ser exclusivo para os militares e policiais?

Filipe do Amaral Monteiro: Esse é um mito recorrente no discurso desarmamentista. O porte de armas só é dado para pessoas com comprovada capacidade de utilizá-las. Os acidentes com armas particulares são ínfimos. Carros matam muito mais, e esse dado é facilmente verificável. Civis pertencentes a clubes de tiro dão muito mais disparos mensais que militares profissionais, como os fuzileiros navais e os paraquedistas. Acredito que apenas o pessoal do GERR (Grupo Especial de Retomada e Resgate) e similares possui uma rotina puxada o suficiente para se equiparar aos atiradores profissionais do meio civil




SZ: Qual é a sua posição sobre o aborto e, em sua opinião, até que ponto as forças armadas poderiam intervir favorável ou desfavoravelmente na matança de fetos no Brasil?

Filipe do Amaral Monteiro: Eu sou contra o aborto e contra todas as bandeiras marxistas, sejam elas feministas, gayzistas ou ateístas. As Forças Armadas existem para resguardar a Constituição, além da propriedade e vida dos cidadãos. Fetos são seres humanos e têm o direito fundamental de viver. Na minha opinião, incitação ao aborto deveria ser o mesmo que incitar o homicídio.




SZ: Acredita que é da natureza do homem ser guerreiro e que a vida militar favorece o desenvolvimento e/ou fortalecimento da masculinidade nos homens?

Filipe do Amaral Monteiro: Ser guerreiro é uma característica exclusivamente masculina. Inclusive, o historiador militar John Keegan afirmou que certos homens não podem ser outra coisa senão guerreiros. Mas nem todos os homens podem ser guerreiros, apenas um número muito seleto de indivíduos podem fazê-lo. Em seu livro "Uma História da Guerra", John Keegan explica que "[...] a guerra é uma atividade humana da qual as mulheres, com exceções insignificantes, sempre e em todos os lugares ficaram excluídas. A s mulheres procuram os homens para protegê-las do perigo e censuram-nos amargamente quando eles não conseguem defendê-las. As mulheres têm seguido os tambores, cuidado dos feridos, lavrado os campos e pastoreado os rebanhos quando o homem da família vai atrás de seu líder; elas até mesmo cavaram trincheiras para os homens defenderem e trabalharam nas oficinas para mandar-lhes armas. As mulheres, porém, não lutam. Elas raramente lutam entre si e jamais, em qualquer sentido militar, lutam com os homens. Se a guerra é tão antiga quanto a história e tão universal quanto a humanidade, devemos agora acrescentar a limitação mais importante: trata-se de uma atividade masculina." (pp 92-93)





Sobre a militaria:



SZ: O que é guerra e para que serve?

Filipe do Amaral Monteiro: O conflito é uma ação natural e que ocorre em todo o reino animal e que sempre existiu. É uma disputa entre duas partes opostas com a finalidade de obter vantagens de infinitas ordens e por infinitos motivos. Podem ser conflitos internos ou externos. Seja na Idade da Pedra, seja na Idade Atômica, seu conceito não mudou. É o uso da força para a continuação dos interesses do grupo. Muitos esqueletos datados da Idade da Pedra apresentam ferimentos de corte, golpes ou mesmo pontas de flecha. No Sudão, antiga Núbia, foram encontrados alguns cemitérios coletivos onde nenhum morto faleceu de causas naturais. As pinturas rupestres, nas paredes das cavernas, mostram cenas de batalhas. Dito isso, podemos afirmar que a guerra é o resultado da dialética entre duas ou mais vontades, com a utilização da força (ou a ameaça do uso da força) para a obtenção de um ou mais objetivos que devem ser atingidos apesar do inimigo. Isso pode ser feito lançando mão de forças militares, econômicas e políticas.




SZ: Qual é o histórico de guerra do Brasil e como vê as guerras e conflitos bélicos ocorridos na historia do Brasil?

Filipe do Amaral Monteiro: Não é grande coisa, mas também não é dos piores. Em termos sul-americanos, o Brasil e o Chile se encontram em uma posição confortável diante dos seus vizinhos. Nossa independência foi travada de forma rápida e decisiva, diferente de Bolívar, D. Pedro I foi um bom comandante. O Brasil foi a única colônia que não se desfez, e por causa disso o nosso país é o mais influente da América Latina. Mas isso apesar das nossas lideranças, e não por causa delas. Tivemos poucos estadistas e, em minha opinião, o maior deles foi D. Pedro II. Conflitos externos foram poucos. Na Cisplatina o Brasil venceu no mar, mas falhou em terra e não cativou a população uruguaia. A Província Cisplatina (1825-28) se tornou a República Oriental do Uruguai, e o fato de não ser incorporada às Províncias Unidas do Prata fala em favor da Armada Imperial, que era a marinha mais poderosa das Américas. A Guerra do Prata (1851/52) já foi uma situação bem melhor, as experiências adquiridas debelando as revoltas regenciais, especialmente no Rio Grande do Sul, formaram uma liderança militar excelente e a vitória foi completa, com as tropas brasileiras desfilando em Buenos Aires. A Guerra da Tríplice Aliança (1864/70) foi um esforço titânico em uma guerra terrível, de trincheiras em pântanos infestados de febres e cólera. Os paraguaios resistiram até o fim, mas os brasileiros se saíram vitoriosos. Depois dessa guerra nenhum país da América do Sul foi capaz de enfrentar o Brasil e os conflitos militares com os nossos vizinhos cessaram. Ocorreram muitos conflitos internos, como Canudos, Contestado e a Revolução de 1932. O Brasil participou muito pouco da Primeira Guerra Mundial, com alguns enfermeiros, um número minúsculo de oficiais do exército e uma força naval (o DNOG). Para a comemoração da vitória em Paris o Brasil encheu um transatlântico com mais convidados para a festa do que militares brasileiros empenhados na luta. Velhos hábitos são duros de suprimir. Na Segunda Guerra Mundial o Brasil disponibilizou forças aeronavais para a defesa do Atlântico Sul, além da sua marinha mercante e o saliente nordestino. Também enviou uma divisão de infantaria para lutar na Europa. Essa divisão foi composta por todos os estados e os oficiais, carreiristas e covardes, fugiram da luta colocando os oficiais da reserva para compor a maior parte dos efetivos (se bem me lembro 80% dos oficiais da FEB eram oficiais reservista s). De 1945 pra cá, com exceção das guerrilhas urbanas e rurais durante a Guerra Fria, só nos envolvemos em missões de manutenção da p az. Na minha visão o Brasil deveria participar de missões de imposição da paz. Se este país pretende ser o líder de alguma coisa ele tem que sair da área de conforto e enfrentar as missões mais arriscadas. O Uruguai faz isso e nós não!




SZ: Acredita que seja importante a participação política dos militares no governo de um país, como vê a participação na politica dos militares no Brasil e como está a situação atual das nossas forças armadas quanto a isso?

Filipe do Amaral Monteiro: Sim, acredito que seja muito importante. Militares, médicos, etc., todos devem participar. Democracia é isso, a participação de todos que tenham condições. Por isso que analfabetos não deviam votar, diga-se de passagem. Atualmente os militares de carreira só querem a pensão, ninguém se mobiliza pra nada. Uma pena. Os militares deviam pressionar ativamente por reformas na defesa do país (que é calamitosa). Além disso, o ministro da defesa deveria ser um oficial-general ou um especialista militar civil; igual no mundo desenvolvido. Aqui no Brasil é apenas mais um cabide de emprego para cabos eleitorais.

A forma como os militares são vistos também deveria mudar. Meu pai me impediu de estudar para ser oficial porque ele não gosta de militares e a visão geral das pessoas leigas é que é uma profissão sem futuro, destinada apenas àqueles que não servem para mais nada. Isso vem de longa data, herdada dos portugueses.




SZ: Além da atuação em guerras quais são os demais trabalhos militares para e numa sociedade democrática?

Filipe do Amaral Monteiro: A garantia da lei e da ordem, a proteção do patrimônio e da vida dos cidadãos, providenciar assistência em locais remotos ou sinistrados como foi o caso de Itajaí e Pelotas em 2008 socorridos pelo Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande.




SZ: O que pensa sobre a obrigatoriedade do serviço militar para os homens e sobre a seleção que é feita para o ingresso no serviço militar brasileiro?

Filipe do Amaral Monteiro: Não sou muito favorável. A obrigatoriedade do serviço é muito mais ficção que verdade, pois existem mais voluntários do que se imagina. Mas o atual sistema é pobre e mal conduzido. São funcionários públicos que realizam a seleção inicial que eliminará a grande maioria dos conscritos, e isso é feito da forma mais desleixada possível. O correto seria a obrigatoriedade do registro e apenas voluntários servirem. O pessoal do Exército gosta de fazer graça alistando gente que claramente não quer servir e dispensa voluntários. Eu era voluntário e fui dispensado por excesso de contingente logo na primeira etapa. Mas países que eliminara m o serviço militar obrigatório hoje sentem muita falta dele nomeadamente, porque a juventude se tornou preguiçosa e mimada. Uma pesquisa do jornal La Dépêche, da França, indicou que cerca de 62% dos franceses sentem falta do serviço militar obrigatório. As mulheres que se relacionam com militares costumam fazer comparações e dizem preferir quem serviu às Forças Armadas; dizem que são 'mais homens'.



SZ: Em sua avaliação quais são os perfis masculinos mais compatíveis e os menos compatíveis com a vida de militar no Exercito, na Aeronáutica e na Marinha do Brasil?

Filipe do Amaral Monteiro: A vida militar é uma vida coletiva. Os perfis mais compatíveis são de pessoas acostumadas aos desafios e à vida com outras pessoas porque precisam ser solidários. Os menos compatíveis são os individualistas, egoístas e aqueles que não têm caráter. Infelizmente, eu não posso dizer que a maioria dos militares é realmente 'vocacionado', como o exército gosta de nomear.




SZ: O que pensa sobre as participações femininas nas forças armadas e de acordo com suas informações e observação, como avalia o desempenho feminino no serviço militar de forma geral e acredita que possa haver mulheres vocacionadas à vida militar?

Filipe do Amaral Monteiro: Aqui entramos em um campo delicado. Os civis provavelmente ficarão bravos comigo, mas os militares sabem do que eu estou falando. A mulher como profissional administrativa e de saúde é excelente. O mesmo não pode ser dito quanto a serem militares. A mulher no quartel se comporta de forma incompatível com o ambiente. Elas fogem dos serviços mais desagradáveis simplesmente porque 'são mulheres'. Da mesma forma, usam o seu gênero para conseguir as partes boas, as folgas e as missões disputadas. Exemplo disso que nenhuma mulher quis subir os morros da Vila Cruzeiro (sei de apenas uma PM que foi), mas conseguiram ir para o Ha iti na frente de sargentos muito mais antigos. Eu lembro das marinheiras de Rio Grande, que respondiam de forma inadequada para os superiores e não gostavam de obedecer. E no final das contas gostam de aparecer em programas de televisão se dizendo iguais aos homens, sendo que não seguem nas mesmas dificuldades sequer na rotina diária, que dirá no treinamento físico. Todo lugar onde aceitaram mulheres foi obrigado a abaixar os padrões de aptidão física. É por isso que unidades especiais e de elite raramente ou nunca aceitam mulheres. Um erro comum dos civis é imaginar que todo militar é alocado em uma unidade de combate, mas a maior parte dos efetivos serve em funções de retaguarda. As mulheres estão, em sua totalidade, nessas funções 'meio'. Enquanto isso, os homens respondem pela totalidade das funções combatentes, função 'fim'. E isso mesmo em Israel, onde as mulheres em funções de combate são menos de 2% desses efetivos. E ainda assim são usadas a penas em funções de policiamento. Esse ano (2012), a Capitã Katie Petrônio, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), falou contra essa visão politicamente correta de dizer que a mulher é igual ao homem. Vale a pena conferir o testemunho dessa oficial veterana, ela até perdeu a capacidade reprodutiva por causa do excesso de esforço físico. É muito interessante tomar um chá de realidade diante de tanta demagogia.


Eu, pessoalmente, não vejo com bons olhos. Recentemente a primeira mulher se tornou oficial-general da Marinha. Se tem algo que o Brasil não precisa é de mais oficiais. Principalmente almirantes.




SZ: De acordo com sua percepção, experiência e observação quais são os benefícios e prejuízos da vida militar para o homem e para a mulher?

Filipe do Amaral Monteiro: Essa é uma pergunta que pode variar muito de pessoa pra pessoa. Eu, por exemplo, me adaptei muito bem à vida militar. Lembro que no CIAMPA (Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves), após o fim do curso e durante a despedida dos transferidos para o Rio Grande do Sul, o Recruta - Fuzileiro Naval 1148 me disse que eu me dou muito bem com a diversidade e me adapto com facilidade à vida coletiva. Não são todos que são assim, e são esses que mais sofrem no período básico.

Enfim, na minha humilde opinião os benefícios estão na camaradagem (que nem é tão grande assim no Brasil), no orgulho da farda, a rotina, as manobras e as cerimônias. Eu adorava tudo isso, não reclamava nem de dar serviço. Na questão dos prejuízos temos a falta de liderança descente, com oficiais e graduados por vezes vagabundos (e eu conto nos dedos os bons oficiais que conheci), a escala absurdamente apertada do Corpo de Fuzileiros Navais que chega a ser criminosa, o salário defasado, a falta de perspectivas e um plano de carreira indecente. Algo que deveria acabar é a estabilidade. A maior parte dos militares atuais é primeiro um funcionário público e somente em segundo ou terceiro lugar, um militar. Por outro lado, jamais conheci homens tão honrados e dedicados quanto os comandos anfíbios e "comanfinhos" do Corpo de Fuzileiros Navais.

As mulheres devem ter poucas queixas. Já as esposas de militares sofrem com a ausência e as constantes transferências ao longo da carreira. Mas como um amigo meu, sargento dos paraquedistas italianos da Brigada Folgore, me disse: Tem coisas que só o amor consegue suportar.




Seus conselhos aos jovens e palavras às mulheres:



SZ: Filipe Monteiro, lhe agradeço a boa vontade em compartilhar conosco seus saberes sobre militaria e a suas ideias e posicionamentos positivos quanto homem militar. Saiba que este simplório espaço virtual sempre estará a sua disposição ao bem dos homens, mulheres e crianças brasileiros de todo o território nacional, e ao bem do sonho de que o nosso Brasil supere os problemas e venha a ser uma pátria bacana para todos os conterrâneos e até para os nascidos em outras terras, obviamente desde que se comportem com respeito a nossa gente, a soberania de nossa bandeira e que residam honestamente no nosso país.


Para finalizar, quais seriam seus conselhos e orientações para os rapazes e adolescentes que sonham com a vida militar e/ou que temam o serviço militar obrigatório, e também suas palavras às mulheres que por ventura lerem esta entrevista?


Filipe do Amaral Monteiro: Um homem precisa de algumas características para se dar bem no meio militar. Elas são paciência, companheirismo, força mental, uma dose de humor cínico e outra de desconfiança. Àqueles que temem o serviço, eu só lamento. Eu espero que as mulheres gostem da entrevista e que elas apoiem os nossos militares. Adsumus.



Filipe do Amaral Monteiro.

======================================Símia Zen.

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