Fraternas,
Para conhecermos
um pouco mais sobre a Militaria e assuntos correlatos, publicamos a entrevista
gentilmente concedida por um homem vocacionado ao militarismo: Filipe do Amaral
Monteiro, 25 anos, paulista da capital, condecorado pela
Associação de Ex-Combatentes da Segunda Guerra Mundial com a Medalha
Expedicionário.
Espero que gostem da entrevista e que também lhes seja útil na
educação de suas filhas e filhos, nos seus relacionamentos com os homens de suas convivências e quanto cidadãs brasileiras.
O Filipe:
SZ: Qual
é sua formação acadêmica?
Filipe do Amaral Monteiro: Estudei
logística na Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e liderança na Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
SZ: Qual
é experiência como militar e quais são seus planos futuros no campo da
militaria?
Filipe do Amaral Monteiro: Servi
à Marinha do Brasil fazendo parte do Corpo de Fuzileiros Navais, passei pelo
famoso Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA) no Rio de
Janeiro. Depois eu fui transferido para o Rio Grande do Sul e cumpri o resto do
meu contrato no Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande. Escrevi para a
revista Tecnologia & Defesa e sou sócio e colaborador benemérito da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHMTB). Fui condecorado pela
Associação de Ex-Combatentes da Segunda Guerra Mundial - Seção São Paulo com a
Medalha 'Expedicionário' por serviços prestados à preservação da memória dos
ex-combatentes. A AHMTB também vai me condecorar (Medalha Dragões das Minas).
Pretendo me alistar na Legião Estrangeira Francesa para participar de operações
de combate.
SZ: Poderia
nos esclarecer sobre o que significa para você, em seu íntimo humano
sentimental, sua condecoração com a Medalha Expedicionário?
Filipe do Amaral Monteiro: Pra
mim não foi nada extraordinário e fiquei satisfeito com o reconhecimento, mas o
que realmente me motivou foi que o Major Samuel me indicou para receber a
medalha e a admiração que eu sinto por ele é enorme. Ele faleceu em outubro.
Vou transcrever o que diz no diploma da minha medalha:
‘Diploma da Medalha
“EXPEDICIONÁRIO”
A Associação dos
Ex-Combatentes do Brasil – Seção de São Paulo, em reunião de sua diretoria,
resolveu conceder a Medalha “EXPEDICIONÁRIO”, registrada conforme Boletim Nº 25
de 23 de junho de 2004, código 463 do Departamento Geral do Pessoal do Exército
a Filipe do Amaral Monteiro por serviços prestados à Associação, às Forças
Armadas e ao culto da epopeia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda
Guerra Mundial.
São Paulo, 29 de junho de
2012.’
SZ: Na
foto que ilustra esta entrevista há um digno senhor ao seu lado, quem é ele, o
que ele significa para as Forças Armadas do Brasil e para você em especial?
Filipe do Amaral Monteiro: Ele
é o Major Samuel Silva, um veterano da Força Expedicionária Brasileira e um
herói para as Forças Armadas - apesar de pouco conhecido. Ele foi condecorado
com a Cruz de Combate 1ª Classe por bravura na Segunda Guerra Mundial, além de
várias outras citações honrosas em boletim (isso é muita coisa no meio
militar). Ele, como todos os febianos, sofreu por inveja dos demais militares
do Exército que não lutaram na guerra porque fugiram. Ele só recebeu essa
medalha anos depois d o conflito acabar. Não foi muito diferente com vários
outros. Infelizmente, o Brasil é um país onde sempre sobrou inveja e sempre
faltou grandeza. Ele sempre foi um modelo de militar e de conduta para mim, sua
morte foi um triste acontecimento e eu fico muito infeliz de não ter conseguido
transcrever suas memórias como nós vínhamos planejando.
SZ: Como
assim ‘fugiram’? Você poderia explicar melhor?
Filipe do Amaral Monteiro: Fugir
do serviço militar sempre foi uma tradição nacional, especialmente em caso de
guerra. Tanto os mais abastados quanto os oficiais de carreira conseguiram
subterfúgios para escapar da Força Expedicionária (FEB), e assim, da guerra. O
2º Tenente Gérson Machado Pires, fez o seguinte depoimento ao término do seu
curso na Escola Militar do Realengo (formadora de oficiais de carreira do
Exército na época):
“Botaram no quadro negro os
nomes [dos formandos], pedindo quem ia ser voluntário para a FEB. O primeiro da
turma não quis ir. O segundo da turma não quis ir. O 15º, esse quis ir. Ninguém
da minha turma tem moral para dizer “não fiz a guerra porque não me mandaram”.
“Se não foi, foi porque não quis”
Esse relato está na página
349 do livro “Nova História Militar Brasileira” e foi colhido em entrevista
feita pelo historiador Cesar Maximiano Campiani. Na mesma página, o tenente
Gonçalves coloca o corpo de oficiais em 20% de oficiais de carreira e 80% de
oficiais da reserva.
SZ: Como foi sua educação
familiar e religiosa?
Filipe do Amaral Monteiro: Minha
formação foi muito bem estruturada e proveniente de uma família nuclear
clássica (casal e três filhos). Minha mãe me educou da melhor forma possível e
sempre dentro da moralidade e da ordem. Minha mãe é formada em pedagogia e em
letras e sempre foi uma mãe exemplar que soube aplicar seus conhecimentos na
minha formação. Foi graças a ela que eu adquiri este gosto por leitura que é
tão anormal ao brasileiro médio. Estudei em escolas particulares, primeiro no
Colégio Batista Brasileiro e depois no Colégio Objetivo (Teodoro e Vergueiro).
Minha criação religiosa foi na Igreja Batista do Povo. Apesar de ser ateu,
tenho como algo que me é muito caro a formação cristã que recebi.
SZ: Quais
são suas posições políticas-filosóficas?
Filipe do Amaral Monteiro: Direita,
libertária e democrática. Sempre a favor do império da lei e da ordem. Da
proteção à família como base da sociedade, e dos papéis tradicionais do homem e
da mulher na sociedade. Da parte filosófica, devo muito ao Cristianismo como
agente civilizador e gosto muito de ler e assistir ao Professor Olavo de
Carvalho. Mas o meu prazer verdadeiro é a leitura sobre militaria, geralmente
livros de autores estrangeiros.
SZ: Como se define?
Filipe do Amaral Monteiro: Sou
aquele amigo que todos amam e odeiam ao mesmo tempo. Faço brincadeiras sem
noção, mas quem me conhece sabe que não tem malícia. Dizem que sou reservado,
as pessoas raramente sabem o que eu estou pensando - as mulheres me dizem que
isso me faz "misterioso". Como cidadão eu sou aquele cara que não
joga lixo no chão e não desrespeita as regras, mas se nenhum carro estiver
passando eu atravesso no verde e fora da faixa sem maiores dores de
consciência.
Sua participação nas
reflexões sobre as demandas existenciais masculinas:
SZ: Quando
iniciou e como está sendo sua trajetória nas questões masculinas no campo
virtual?
Filipe do Amaral Monteiro: Começou
no Orkut em uma comunidade chamada "O Lado Obscuro das Mulheres",
onde se falava de um autor de livros sobre a lida com as mulheres - os quais
ainda não li. No início era interessante, mas o aumento de garotinhos
frustrados me cansou e fui para o site Reflexões Masculinas. Lá o público era
mais velho e mais maduro. Eu mais "ouvia" do que comentava.
SZ: O que o motivou a atuar nas
questões masculinas no campo virtual?
Filipe do Amaral Monteiro: O
que mais me espantou foi a baixa resiliência dos adolescentes, eu tentei
motivá-los um pouco e ajudar de forma didática no que fosse necessário.
Enfatizei a virilidade, a resistência psicológica e o orgulho que devem ter de
serem homens.
SZ: Quais
são seus referenciais teóricos ou não sobre as questões masculinas no campo
amoroso e na vida em geral?
Filipe do Amaral Monteiro: Primeiro
a minha mãe, ela me deu uma noção excelente dos papéis sexuais na sociedade. Em
segundo vêm os "mestres" que tive na academia dos 15 aos 19 anos:
Primeiro o Atílio, quem mais me ensinou sobre como tratar as mulheres, como
falar com elas e etc. Depois os "mestres" da Academia Body Station:
Átila, Túlio, Fernando e Alê. Havia também o 'Mestre', que de tanto chamá-lo
assim não lembro mais o nome dele. Ele era fisiculturista e me ajudava no
treino. Aos 20 anos eu estava no CFN e os meus exemplos eram os cabos e
sargentos, especialmente do Batalhão de Operações Especiais. Nomes que eu não
posso esquecer são: C abo P. Silva, Cabo Júlio, Cabo Junior, Sargento Valverde,
Sargento Frank, Sargento Valdir, Sargento Augusto e o Sargento Roberto. Houve
outros, mas esses foram os principais. Um homem famoso que eu admiro em
particular é o General Charles de Gaulle, um homem íntegro, corajoso,
historiador e dotado de uma excelente memória. Tanto na teoria, nos livros ou
na prática, quando algo parece difícil eu apenas penso "Respire fundo e
seja bravo"; tal como disse Ovídio tantos séculos atrás em seu livro
"Amor", "O amor é como o serviço nas legiões: pra trás os
covardes!".
Suas ideias e
posicionamentos:
SZ: De
acordo com seu discernimento qual é a diferença entre agressividade e
violência?
Filipe do Amaral Monteiro: Agressividade
é espírito ofensivo. Violência é a violência nas ações, isto é, o ímpeto com
que se ataca o inimigo de forma a sobrepujá-lo e impor sua vontade sobre ele. É
por causa disso que o treinamento militar precisa ser um exercício psicofísico
duro e eficiente. Na guerra o que importa é vencer, o inimigo não será
"bonzinho" com ninguém. Quando um sargento grita na cara de um
recruta, ele está moldando sua capacidade de suportar agressividade
interpessoal.
SZ: Acredita
que o Brasil é um país pacifico e o homem brasileiro é pouco agressivo e pouco
violento?
Filipe do Amaral Monteiro: Não.
O Brasil é desorganizado e violento. Teve poucas guerras externas por causa dos
nossos vizinhos, que são débeis e fracos. Mas internamente, apenas na época de
Dom Pedro II, entre o fim da Guerra do Prata (1851/52) e o início da Guerra da
Tríplice Aliança (1864/70) podemos dizer que o Brasil viveu em tranquilidade.
No restante do tempo estamos sempre imersos em índices absurdos de violência.
Especialmente entre os homens jovens de 15-25 anos.
SZ: Em
sua opinião qual é a importância do patriotismo num homem e o homem brasileiro
é patriota?
Filipe do Amaral Monteiro: Se
existe algo que garante o progresso é a identidade nacional, e para isso é
preciso amor pela sua pátria. Só se ama o que se respeita, e apenas se respeita
o que ao menos se conhece. Não, o brasileiro não é patriota.
SZ: Acredita
que o território nacional deveria ser repartido entre os estados de maneira a
formar países distintos e totalmente independentes política e economicamente?
Filipe do Amaral Monteiro: De
forma alguma! Qualquer plano de separação desse país é uma sandice e qualquer
movimento nesse sentido deve ser combatido sem trégua. O país é uno e
indivisível. O que deve existir é uma
maior autonomia estadual, permitindo que os estados do sul e sudeste possam utilizar
suas riquezas para seu próprio progresso, ao invés de entregar vastas quantias
para os buracos negros usados como currais eleitorais. São Paulo agradece.
SZ: O
que pensa sobre o porte de armas para civis?
Filipe do Amaral Monteiro: Deve
ser liberado o quanto antes. O cidadão armado aumenta a segurança pública e
diminui a violência. A impunidade e atrevimento dos meliantes são garantidos
pela política de tolher o direito de portar armas pelo cidadão ordeiro. Se
armas registradas gerassem violência, a Suíça seria o verdadeiro inferno.
Recentemente os bombardeios da mídia desarmamentista voltaram em força total
com o triste acontecimento na escola de Newton, nos Estados Unidos. As escolas
americanas seguem a política de banir armas há anos e isso apenas aumentou o
número de atentados. Se as escolas tivessem homens armados com ordens para usar
força letal contra quaisquer agressores que tentassem machucar as crianças, o
incidente não teria acontecido. É assim que é em Israel, em 10 anos morreram
apenas oito crianças israelenses atacadas por terroristas enquanto estavam na
escola porque os adultos andam armados. Nos EUA foram mais de 300. O psicopata
Wellington, autor do Massacre de Realengo só foi parado com o disparo heroico
do 3º Sargento da Polícia Militar Márcio Alexandre Alves. Se armas aumentassem
a violência, psicopatas atacariam quarteis das Forças Armadas em vez de escola
de nível fundamental.
SZ: Mas
os civis não poderiam se machucar portando armas? O uso de armas não deveria
ser exclusivo para os militares e policiais?
Filipe do Amaral Monteiro: Esse
é um mito recorrente no discurso desarmamentista. O porte de armas só é dado
para pessoas com comprovada capacidade de utilizá-las. Os acidentes com armas
particulares são ínfimos. Carros matam muito mais, e esse dado é facilmente
verificável. Civis pertencentes a clubes de tiro dão muito mais disparos
mensais que militares profissionais, como os fuzileiros navais e os
paraquedistas. Acredito que apenas o pessoal do GERR (Grupo Especial de
Retomada e Resgate) e similares possui uma rotina puxada o suficiente para se
equiparar aos atiradores profissionais do meio civil
SZ: Qual
é a sua posição sobre o aborto e, em sua opinião, até que ponto as forças
armadas poderiam intervir favorável ou desfavoravelmente na matança de fetos no
Brasil?
Filipe do Amaral Monteiro: Eu
sou contra o aborto e contra todas as bandeiras marxistas, sejam elas
feministas, gayzistas ou ateístas. As Forças Armadas existem para resguardar a
Constituição, além da propriedade e vida dos cidadãos. Fetos são seres humanos
e têm o direito fundamental de viver. Na minha opinião, incitação ao aborto
deveria ser o mesmo que incitar o homicídio.
SZ: Acredita
que é da natureza do homem ser guerreiro e que a vida militar favorece o
desenvolvimento e/ou fortalecimento da masculinidade nos homens?
Filipe do Amaral Monteiro: Ser
guerreiro é uma característica exclusivamente masculina. Inclusive, o
historiador militar John Keegan afirmou que certos homens não podem ser outra
coisa senão guerreiros. Mas nem todos os homens podem ser guerreiros, apenas um
número muito seleto de indivíduos podem fazê-lo. Em seu livro "Uma
História da Guerra", John Keegan explica que "[...] a guerra é uma
atividade humana da qual as mulheres, com exceções insignificantes, sempre e em
todos os lugares ficaram excluídas. A s mulheres procuram os homens para
protegê-las do perigo e censuram-nos amargamente quando eles não conseguem
defendê-las. As mulheres têm seguido os tambores, cuidado dos feridos, lavrado
os campos e pastoreado os rebanhos quando o homem da família vai atrás de seu
líder; elas até mesmo cavaram trincheiras para os homens defenderem e
trabalharam nas oficinas para mandar-lhes armas. As mulheres, porém, não lutam.
Elas raramente lutam entre si e jamais, em qualquer sentido militar, lutam com
os homens. Se a guerra é tão antiga quanto a história e tão universal quanto a
humanidade, devemos agora acrescentar a limitação mais importante: trata-se de
uma atividade masculina." (pp 92-93)
Sobre a militaria:
SZ: O
que é guerra e para que serve?
Filipe do Amaral Monteiro: O
conflito é uma ação natural e que ocorre em todo o reino animal e que sempre
existiu. É uma disputa entre duas partes opostas com a finalidade de obter
vantagens de infinitas ordens e por infinitos motivos. Podem ser conflitos
internos ou externos. Seja na Idade da Pedra, seja na Idade Atômica, seu
conceito não mudou. É o uso da força para a continuação dos interesses do
grupo. Muitos esqueletos datados da Idade da Pedra apresentam ferimentos de
corte, golpes ou mesmo pontas de flecha. No Sudão, antiga Núbia, foram
encontrados alguns cemitérios coletivos onde nenhum morto faleceu de causas
naturais. As pinturas rupestres, nas paredes das cavernas, mostram cenas de
batalhas. Dito isso, podemos afirmar que a guerra é o resultado da dialética
entre duas ou mais vontades, com a utilização da força (ou a ameaça do uso da
força) para a obtenção de um ou mais objetivos que devem ser atingidos apesar
do inimigo. Isso pode ser feito lançando mão de forças militares, econômicas e
políticas.
SZ: Qual
é o histórico de guerra do Brasil e como vê as guerras e conflitos bélicos
ocorridos na historia do Brasil?
Filipe do Amaral Monteiro: Não
é grande coisa, mas também não é dos piores. Em termos sul-americanos, o Brasil
e o Chile se encontram em uma posição confortável diante dos seus vizinhos.
Nossa independência foi travada de forma rápida e decisiva, diferente de
Bolívar, D. Pedro I foi um bom comandante. O Brasil foi a única colônia que não
se desfez, e por causa disso o nosso país é o mais influente da América Latina.
Mas isso apesar das nossas lideranças, e não por causa delas. Tivemos poucos
estadistas e, em minha opinião, o maior deles foi D. Pedro II. Conflitos
externos foram poucos. Na Cisplatina o Brasil venceu no mar, mas falhou em
terra e não cativou a população uruguaia. A Província Cisplatina (1825-28) se
tornou a República Oriental do Uruguai, e o fato de não ser incorporada às
Províncias Unidas do Prata fala em favor da Armada Imperial, que era a marinha
mais poderosa das Américas. A Guerra do Prata (1851/52) já foi uma situação bem
melhor, as experiências adquiridas debelando as revoltas regenciais,
especialmente no Rio Grande do Sul, formaram uma liderança militar excelente e
a vitória foi completa, com as tropas brasileiras desfilando em Buenos Aires. A
Guerra da Tríplice Aliança (1864/70) foi um esforço titânico em uma guerra
terrível, de trincheiras em pântanos infestados de febres e cólera. Os
paraguaios resistiram até o fim, mas os brasileiros se saíram vitoriosos.
Depois dessa guerra nenhum país da América do Sul foi capaz de enfrentar o
Brasil e os conflitos militares com os nossos vizinhos cessaram. Ocorreram
muitos conflitos internos, como Canudos, Contestado e a Revolução de 1932. O
Brasil participou muito pouco da Primeira Guerra Mundial, com alguns
enfermeiros, um número minúsculo de oficiais do exército e uma força naval (o
DNOG). Para a comemoração da vitória em Paris o Brasil encheu um transatlântico
com mais convidados para a festa do que militares brasileiros empenhados na
luta. Velhos hábitos são duros de suprimir. Na Segunda Guerra Mundial o Brasil
disponibilizou forças aeronavais para a defesa do Atlântico Sul, além da sua
marinha mercante e o saliente nordestino. Também enviou uma divisão de
infantaria para lutar na Europa. Essa divisão foi composta por todos os estados
e os oficiais, carreiristas e covardes, fugiram da luta colocando os oficiais
da reserva para compor a maior parte dos efetivos (se bem me lembro 80% dos
oficiais da FEB eram oficiais reservista s). De 1945 pra cá, com exceção das
guerrilhas urbanas e rurais durante a Guerra Fria, só nos envolvemos em missões
de manutenção da p az. Na minha visão o Brasil deveria participar de missões de
imposição da paz. Se este país pretende ser o líder de alguma coisa ele tem que
sair da área de conforto e enfrentar as missões mais arriscadas. O Uruguai faz
isso e nós não!
SZ: Acredita
que seja importante a participação política dos militares no governo de um
país, como vê a participação na politica dos militares no Brasil e como está a
situação atual das nossas forças armadas quanto a isso?
Filipe do Amaral Monteiro: Sim,
acredito que seja muito importante. Militares, médicos, etc., todos devem
participar. Democracia é isso, a participação de todos que tenham condições.
Por isso que analfabetos não deviam votar, diga-se de passagem. Atualmente os
militares de carreira só querem a pensão, ninguém se mobiliza pra nada. Uma
pena. Os militares deviam pressionar ativamente por reformas na defesa do país
(que é calamitosa). Além disso, o ministro da defesa deveria ser um
oficial-general ou um especialista militar civil; igual no mundo desenvolvido.
Aqui no Brasil é apenas mais um cabide de emprego para cabos eleitorais.
A forma como os militares
são vistos também deveria mudar. Meu pai me impediu de estudar para ser oficial
porque ele não gosta de militares e a visão geral das pessoas leigas é que é
uma profissão sem futuro, destinada apenas àqueles que não servem para mais
nada. Isso vem de longa data, herdada dos portugueses.
SZ: Além
da atuação em guerras quais são os demais trabalhos militares para e numa
sociedade democrática?
Filipe do Amaral Monteiro: A
garantia da lei e da ordem, a proteção do patrimônio e da vida dos cidadãos,
providenciar assistência em locais remotos ou sinistrados como foi o caso de
Itajaí e Pelotas em 2008 socorridos pelo Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio
Grande.
SZ: O
que pensa sobre a obrigatoriedade do serviço militar para os homens e sobre a
seleção que é feita para o ingresso no serviço militar brasileiro?
Filipe do Amaral Monteiro: Não
sou muito favorável. A obrigatoriedade do serviço é muito mais ficção que
verdade, pois existem mais voluntários do que se imagina. Mas o atual sistema é
pobre e mal conduzido. São funcionários públicos que realizam a seleção inicial
que eliminará a grande maioria dos conscritos, e isso é feito da forma mais
desleixada possível. O correto seria a obrigatoriedade do registro e apenas
voluntários servirem. O pessoal do Exército gosta de fazer graça alistando
gente que claramente não quer servir e dispensa voluntários. Eu era voluntário
e fui dispensado por excesso de contingente logo na primeira etapa. Mas países
que eliminara m o serviço militar obrigatório hoje sentem muita falta dele nomeadamente,
porque a juventude se tornou preguiçosa e mimada. Uma pesquisa do jornal La
Dépêche, da França, indicou que cerca de 62% dos franceses sentem falta do
serviço militar obrigatório. As mulheres que se relacionam com militares
costumam fazer comparações e dizem preferir quem serviu às Forças Armadas;
dizem que são 'mais homens'.
SZ: Em
sua avaliação quais são os perfis masculinos mais compatíveis e os menos
compatíveis com a vida de militar no Exercito, na Aeronáutica e na Marinha do
Brasil?
Filipe do Amaral Monteiro: A
vida militar é uma vida coletiva. Os perfis mais compatíveis são de pessoas
acostumadas aos desafios e à vida com outras pessoas porque precisam ser
solidários. Os menos compatíveis são os individualistas, egoístas e aqueles que
não têm caráter. Infelizmente, eu não posso dizer que a maioria dos militares é
realmente 'vocacionado', como o exército gosta de nomear.
SZ: O
que pensa sobre as participações femininas nas forças armadas e de acordo com
suas informações e observação, como avalia o desempenho feminino no serviço
militar de forma geral e acredita que possa haver mulheres vocacionadas à vida
militar?
Filipe do Amaral Monteiro: Aqui
entramos em um campo delicado. Os civis provavelmente ficarão bravos comigo,
mas os militares sabem do que eu estou falando. A mulher como profissional
administrativa e de saúde é excelente. O mesmo não pode ser dito quanto a serem
militares. A mulher no quartel se comporta de forma incompatível com o
ambiente. Elas fogem dos serviços mais desagradáveis simplesmente porque 'são
mulheres'. Da mesma forma, usam o seu gênero para conseguir as partes boas, as
folgas e as missões disputadas. Exemplo disso que nenhuma mulher quis subir os
morros da Vila Cruzeiro (sei de apenas uma PM que foi), mas conseguiram ir para
o Ha iti na frente de sargentos muito mais antigos. Eu lembro das marinheiras
de Rio Grande, que respondiam de forma inadequada para os superiores e não
gostavam de obedecer. E no final das contas gostam de aparecer em programas de
televisão se dizendo iguais aos homens, sendo que não seguem nas mesmas
dificuldades sequer na rotina diária, que dirá no treinamento físico. Todo
lugar onde aceitaram mulheres foi obrigado a abaixar os padrões de aptidão
física. É por isso que unidades especiais e de elite raramente ou nunca aceitam
mulheres. Um erro comum dos civis é imaginar que todo militar é alocado em uma
unidade de combate, mas a maior parte dos efetivos serve em funções de
retaguarda. As mulheres estão, em sua totalidade, nessas funções 'meio'.
Enquanto isso, os homens respondem pela totalidade das funções combatentes,
função 'fim'. E isso mesmo em Israel, onde as mulheres em funções de combate
são menos de 2% desses efetivos. E ainda assim são usadas a penas em funções de
policiamento. Esse ano (2012), a Capitã Katie Petrônio, do Corpo de Fuzileiros
Navais dos Estados Unidos (USMC), falou contra essa visão politicamente correta
de dizer que a mulher é igual ao homem. Vale a pena conferir o testemunho dessa
oficial veterana, ela até perdeu a capacidade reprodutiva por causa do excesso
de esforço físico. É muito interessante tomar um chá de realidade diante de
tanta demagogia.
Eu, pessoalmente, não vejo
com bons olhos. Recentemente a primeira mulher se tornou oficial-general da
Marinha. Se tem algo que o Brasil não precisa é de mais oficiais.
Principalmente almirantes.
SZ: De
acordo com sua percepção, experiência e observação quais são os benefícios e
prejuízos da vida militar para o homem e para a mulher?
Filipe do Amaral Monteiro: Essa
é uma pergunta que pode variar muito de pessoa pra pessoa. Eu, por exemplo, me
adaptei muito bem à vida militar. Lembro que no CIAMPA (Centro de Instrução
Almirante Milcíades Portela Alves), após o fim do curso e durante a despedida
dos transferidos para o Rio Grande do Sul, o Recruta - Fuzileiro Naval 1148 me
disse que eu me dou muito bem com a diversidade e me adapto com facilidade à
vida coletiva. Não são todos que são assim, e são esses que mais sofrem no
período básico.
Enfim, na minha humilde
opinião os benefícios estão na camaradagem (que nem é tão grande assim no
Brasil), no orgulho da farda, a rotina, as manobras e as cerimônias. Eu adorava
tudo isso, não reclamava nem de dar serviço. Na questão dos prejuízos temos a
falta de liderança descente, com oficiais e graduados por vezes vagabundos (e
eu conto nos dedos os bons oficiais que conheci), a escala absurdamente
apertada do Corpo de Fuzileiros Navais que chega a ser criminosa, o salário
defasado, a falta de perspectivas e um plano de carreira indecente. Algo que
deveria acabar é a estabilidade. A maior parte dos militares atuais é primeiro
um funcionário público e somente em segundo ou terceiro lugar, um militar. Por
outro lado, jamais conheci homens tão honrados e dedicados quanto os comandos
anfíbios e "comanfinhos" do Corpo de Fuzileiros Navais.
As mulheres devem ter poucas
queixas. Já as esposas de militares sofrem com a ausência e as constantes
transferências ao longo da carreira. Mas como um amigo meu, sargento dos
paraquedistas italianos da Brigada Folgore, me disse: Tem coisas que só o amor
consegue suportar.
Seus conselhos aos jovens e
palavras às mulheres:
SZ: Filipe
Monteiro, lhe agradeço a boa vontade em compartilhar conosco seus saberes sobre
militaria e a suas ideias e posicionamentos positivos quanto homem militar.
Saiba que este simplório espaço virtual sempre estará a sua disposição ao bem
dos homens, mulheres e crianças brasileiros de todo o território nacional, e ao
bem do sonho de que o nosso Brasil supere os problemas e venha a ser uma pátria
bacana para todos os conterrâneos e até para os nascidos em outras terras,
obviamente desde que se comportem com respeito a nossa gente, a soberania de
nossa bandeira e que residam honestamente no nosso país.
Para finalizar, quais seriam
seus conselhos e orientações para os rapazes e adolescentes que sonham com a
vida militar e/ou que temam o serviço militar obrigatório, e também suas
palavras às mulheres que por ventura lerem esta entrevista?
Filipe do Amaral Monteiro: Um
homem precisa de algumas características para se dar bem no meio militar. Elas
são paciência, companheirismo, força mental, uma dose de humor cínico e outra
de desconfiança. Àqueles que temem o serviço, eu só lamento. Eu espero que as
mulheres gostem da entrevista e que elas apoiem os nossos militares. Adsumus.
Filipe do Amaral Monteiro.
======================================Símia
Zen.
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