Entrevista com Paulo Felipe Noronha: O Trabalho Masculino.


Fraternas, dando continuidade as “Entrevistas com os Homens”, cujos temas são relacionados a vida masculina na voz masculina e, por efeito direto, relacionados a vida feminina também, segue a entrevista com o prof. Paulo Felipe Noronha, 28 anos, nascido e residente em Minas Gerais, moderador da comunidade do Orkut "Universo Masculino", colaborador no acervo do Site Reflexões Masculinas e das comunidades do Orkut Reflexões Masculinas e na antiga O Lado Obscuro das Mulheres, ambas atualmente desativadas, e a Nessahan Alita, todas de temática especifica masculina, e que nesta entrevista compartilha conosco suas ideias, experiência e percepção ampla, analítica e responsável sobre um tema que sem dúvida está ligado a evolução humana, a criação da civilização, a vida familiar e criação dos filhos, que é o Trabalho Masculino.

Espero que a entrevista deste homem culto e consciente lhes seja útil em suas relações profissionais e familiares com os homens e na educação de suas filhas e filhos.


O Paulo Felipe:


SZ: Qual é a sua formação acadêmica e atuação profissional?

Paulo Felipe Noronha: Sou graduando em Letras pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). Além disso, trabalho como jornalista, ocasionalmente como tradutor, e também sou empresário.


SZ: Como foi sua educação familiar e religiosa?

Paulo Felipe Noronha: Minha educação religiosa se constituiu de, quando mais novo, ser incentivado a ir a missa aos domingos. Apesar de nem sempre gostar, ir às missas foi importante para que eu refletisse sobre a religiosidade, e especialmente, sobre a caridade, que é uma das 7 virtudes ou uma virtude teologal no catolicismo. Essa experiência foi significativa o suficiente para que eu me tornasse, por um breve momento, um seminarista, quando mais velho. Meus pais eram ausentes, mas quando se faziam presentes, ao menos ofereciam algum exemplo importante, um modelo de caráter, dentro de suas possibilidades. Especialmente meu pai, era muito compromissado com nosso bem-estar geral, ainda que fosse um homem severo muitas vezes, e passional demais em outras. As lacunas que hoje, eu e minhas irmãs, temos em nossa formação, certamente existem, pois meus pais também as tiveram na formação deles, e cabe a nós, filhos, buscar as respostar que eles não puderam nos dar.


SZ – Qual é seu posicionamento político na conjuntura atual da realidade econômica e social brasileira?

Paulo Felipe Noronha: Eu tenho um posicionamento, em certa medida, calcado no que é chamado de Social Democracia. A grande maioria das massas do país compreende que há uma divisão estrita entre esquerda e direita no Brasil, como se o PSDB fosse o grande ícone da direita brasileira, e o PT o da esquerda. Mas a verdade é que essa divisão não é muito precisa se comparada ao entendimento clássico do que direita e esquerda significam. No Brasil, a imensa maioria dos grupos políticos tem um alinhamento mais a esquerda do que a direita propriamente dita. Eu acredito que o modelo político brasileiro, com todas as suas falhas, tem um quê consensual, harmônico, que absorve pontos positivos de ambas as agendas políticas. A verdade é que direita e esquerda são termos que remontam a sociedades antiqüiqüíssimas, como a helenística, e as idéias que vinham atreladas com esses termos ainda hoje dizem muito sobre essas agendas políticas. Assim, pessoalmente posso dizer que sempre estarei mais a direita que a esquerda, mas tenho uma inclinação moderada por natureza, e prezo coisas como a interferência estatal no capital privado até certa medida, típico da esquerda anti-neoliberal, pois tanto o público quanto o privado devem sempre estar em conflito constante, num sistema saudável de equilíbrio de forças, para que nenhum se manifeste de modo radical. A radicalidade de uma idéia aplicada na práxis implica sempre num revés histórico, e gera grande sofrimento para todos, indistintamente. É algo que não pode ser evitado indefinidamente, mas seria tolice permitir que esse processo se acelere ou mesmo promovê-lo na vã esperança de uma revolução salvadora. O fato de sermos capazes de antecipar, por antevisão, nossos maiores desafios, não significa que devamos nos lançar a eles antes de isso ser absolutamente necessário. Quem comete esse erro é, no mínimo, prepotente.


SZ: Como se define?

Paulo Felipe Noronha: Essa é uma pergunta complexa, pois inédita para mim... mas bem, como cidadão, acredito que seja mais fácil falar, então falarei primeiro: sempre fui preocupado com o equilíbrio entre o social e o individual. Essa dinâmica sempre foi objeto de minha atenção, pois acredito que mesmo o homem mais livre, só exerce uma liberdade (muito) limitada. Assim, a felicidade ou eudaimonismo, é algo que só pode ser obtido mediante um esforço contínuo para equilibrar e aceitar os limites impostos por essas duas dimensões. Como homem, sendo alguém que passou por severas dificuldades, especialmente financeiras, até o momento, tenho superado minhas limitações com diligência. Isso me dá não apenas orgulho, mas muito mais importante, fé e confiança para seguir em frente e alcançar coisas que a um tempo atrás, eu duvidaria de minha capacidade para conseguir. Certamente, meu batismo de fogo foi a morte de meu pai, quando tive, ainda bem jovem, que assumir uma empresa familiar em situação crítica, e torná-la, novamente, numa instituição robusta e capaz de produzir o combustível para a realização de nossos sonhos (meus e de minha família). Já como ser humano, acredito que o mundo está melhor comigo do que sem mim. Isso equivale a dizer, pesados prós e contras, que eu faço mais bem do que mal, e sendo otimista, não sou diferente nesse aspecto da grande maioria dos seres humanos.



O trabalho masculino:


SZ: Em sua opinião qual é a importância do trabalho para o homem?

Paulo Felipe Noronha: Essa é uma pergunta complexa. Com o devir histórico, a importância do trabalho para o homem enquanto sexo e conseqüentemente, gênero, vem sendo re-significada. Mas em poucos momentos essa re-significação foi tão forte quanto no momento atual que vivemos. Além disso, essa importância não é universalmente aceita do mesmo modo pelas diferentes nações e respectivas culturas. De qualquer modo, no seu entendimento mais elevado, o trabalho, para o homem, é um dos principais fatores, senão o principal, a lhe dar significado para sua existência. O estigma que recai sobre um homem que não trabalha é bastante similar ao que recai sobre uma mulher que não exercita qualquer grau de castidade. Não por acaso, a palavra usada em ambos os casos para esses sujeitos é a mesma: vagabundo. O grande desafio atual é que o trabalho, as obrigações sociais relacionadas ao trabalho, e não as obrigações pessoais, foram instrumentalizadas para atender à demanda por poder. Esse processo vem ocorrendo mais fortemente desde o momento histórico da revolução industrial. Antes, o papel do homem como provedor era claro, hoje nem tanto. Bastava o homem prover para sua família, e isso seria o suficiente para lhe garantir o respeito social. Mesmo nas sociedades tribais, o regime de cooperação entre homem e mulher levavam a isso. No cenário atual, as implicações para a felicidade do indivíduo aumentaram. Um homem não será entendido e não se compreenderá como feliz a menos que além de trabalhar, seja extremamente exitoso nisso, em geral, isso será medido pela sua capacidade de acumular mais capital que outros homens como conseqüência de suas competências. E com esse acúmulo de capital, o exercício de poder permite a esse homem ter acesso a coisas que outros homens não têm. Na verdade, isso é, por mais bizarro que soe, um processo inclusivo. Em tempos remotos, a maioria dos homens, estariam considerados fora desse jogo de poder, que era reservado aos nobres e patrícios, hoje, em teoria, todos estão incluídos. Mas na prática, as coisas não são tão simples, e o sistema de hierarquias se mantém mais ou menos incólume. A diferença, se há alguma, é que antes o necessário para a felicidade do "homem comum", ou seja, para alcançar objetivos simples como um matrimônio, uma paternidade e um senso de comunidade, eram elementos sacralizados e oficialmente protegidos pelo discurso teórico prevalente, ao menos nas sociedades fundadas sob princípios teocêntricos (filosoficamente um princípio destro, ou de direita). Com a mudança do foco para o antropocentrismo (filosoficamente sinistro, ou de esquerda) o ser humano passou a ser o único responsável por sua própria felicidade ou infelicidade, e naturalmente, a pressão sobre si aumentou proporcionalmente à sua liberdade. Assim, o homem hoje pode, com certa razão, questionar qual o valor do seu trabalho, se isso o torna apenas um escravo do "sistema". Mas essa seria uma atitude covarde, pois revelaria um desejo de fugir das circunstâncias, uma fantasia de viver num plano à parte, utópico, com regras plenamente confiáveis onde imperasse a justiça e igualdades absolutas. Ironicamente, esse era um domínio divino, e hoje, existem aqueles que acreditam num paraíso terrestre fundado sob humanos. Houve, meramente, a transferência da fé no transcendente para o mundano, os homens resolveram se reconhecer não como imagens do divino, mas como o próprio divino, infalíveis. Isso é uma tolice, naturalmente. Como seres finitos que somos, sempre estivemos limitados ao ambiente que nos circunscreve, se antes eram bestas selvagens e o temor pelo desconhecido, hoje somos nós mesmos que impomos mais claramente as barreiras que necessitamos vencer. O "sistema" nada mais é que a natureza, seja uma intempérie natural ou o desejo de outro homem a conflitar com o nosso. Estagnação, negação e fuga podem ocorrer a qualquer momento, mas como todas as coisas, são realidades perceptíveis que não podem durar indefinidamente.

Dito isso, o trabalho, para o homem, é passo primeiro e crucial para que este alcance a felicidade, via senso de comunidade. A célula comunitária mais simples é a família. Para o homem que aspira a uma família, não trabalhar não é uma opção. Esse homem precisa assumir, antes de tudo, a responsabilidade como provedor. É claro que haverá homens que se furtarão desse papel. Esses homens viverão como que a deriva, livres de qualquer amarras, e seus espólios não servirão a qualquer propósito outro senão sua própria subsistência e necessidades subjetivas. Para esses, o trabalho significa pouco, e seu valor social como indivíduo pode até ser alto, mas não servem como membros de uma comunidade. Ou seja, não servem como homens de família. Criar uma família é um chamado vocacional, afinal.


SZ: Acredita que na atualidade os homens têm o papel de provedor da família?

Paulo Felipe Noronha: Podem até ter, mas não é algo guarnecido ou apreciado, ao menos na atualidade. Em geral, o homem não se torna provedor (se escolher esse caminho) por mera pressão externa, mas também por um pensamento que nasce dentro de si enquanto indivíduo. O homem não pode gerar. Isso não é necessariamente uma vantagem do ponto de vista evolutivo. Qual a função de um homem? Na tentativa de dar significado a sua existência, o homem precisou se fazer útil no nível pragmático da coisa também, afinal, a mulher já tem o privilégio de gerar (entenda-se, gerar ou não é escolha da mulher, mas no fim, apenas ela pode fazê-lo).

Além disso, o objetivo do ser humano é a busca pela felicidade. Ninguém é plenamente feliz enquanto algo lhe falta. A célula familiar é um dos modos mais óbvios de suprir uma lacuna interior que todo ser humano tem dentro de si. Então, para o homem, assegurar o bem-estar de sua companheira e de sua cria foi um processo natural, já que a cria humana precisa de um longo período de cuidados antes de estar apta para o mundo; mas também foi, à medida que o homem começou a subjetivar o mundo, um modo de alcançar essa felicidade interior, via complementação no "outro". Entretanto, devido a uma série de fatores, a figura do homem provedor vem se tornando obsoleta, e a tendência futura é que essa noção caia no esquecimento.


SZ: Como vê o trabalho masculino na atualidade?

É uma situação curiosa a que vem ocorrendo, mas os homens vêm, cada vez mais, assumindo os trabalhos tidos como de menor prestígio. A verdade é que ainda que haja um discurso politicamente correto, prevalente, que baliza leis e produz "costumes", do homem é esperada uma postura pró-ativa, especialmente onde a renda é mais baixa na estrata social. Com a universalização da escolaridade para todas as faixas sócias econômicas, as mulheres têm uma maior possibilidade de alcançar o ensino superior, e é exatamente isso que vem ocorrendo. Há mais mulheres no ensino superior do que homens. É bem verdade que a prevalência delas ocorre em cursos tradicionalmente associados ao feminino, mas globalmente, elas são maioria. Assim, mantida essa tendência, os homens ficarão sujeitos aos trabalhos tidos como braçais por simples falta de formação, enquanto as mulheres evitam esse tipo de cenário por não serem pressionadas ao sustento familiar do mesmo modo que os homens. Essa discrepância pode mudar, no entanto, por uma razão simples: ao capital não interessa o sexo ou gênero, mas sim a manutenção da pirâmide. Quem está no topo da escala social visa jogar pelas próprias regras, enquanto estabelece as regras para aqueles que estão abaixo de si.


SZ – Poderia nos fazer uma comparação entre a situação profissional do homem antes e depois da entrada maciça da mulher no mercado de trabalho?

Paulo Felipe Noronha: A entrada da mulher no mercado de trabalho foi promovida sob uma tese: a de que a mulher sempre esteve excluída do mundo da techne, ou seja, do mundo do trabalho, e por conseqüência, da sociedade. Isso é parcialmente verdade. À mulher realmente não cabia, em geral, trabalhar nos mesmos ofícios que o homem. Entretanto, existe uma noção absurda, propagada por aí, de que o trabalho do homem, exercido fora do lar, seria menos degradante ou menos opressivo que o serviço doméstico feito pelas mulheres. Isso é absurdo num nível que não mereceria nem mesmo refutação. O serviço masculino sempre foi muito mais arriscado, degradante, humilhante, destrutivo, perigoso, infeliz e qualquer outro atributo negativo que se possa pensar, do que o serviço doméstico feminino, e isso ocorre pelo fato de o homem enquanto indivíduo, darwinianamente falando, ser mais "descartável". Se se perguntasse, a qualquer homem, em qualquer período da história, sem levar em consideração questões abstratas como honra, obrigações, decência, papéis sociais, e sem risco de diminuição do seu valor social para casamento ou engajamento em sexo, ou qualquer outra consideração do tipo, garanto que nenhum deles desejaria trabalhar como militar, ou em construções, ou em explorações, onde a maioria morria poucos anos depois de começar, e poucos viviam para contar o feito. Em algumas sociedades o trabalho agrícola era dividido entre os sexos, por ser um serviço "menos arriscado", dentre outras razões, e o resultado disso é que a saúde das mulheres que trabalhavam na agricultura definhava muito mais, se comparada a daquelas que faziam apenas o chamado serviço doméstico. Comparativamente, sociedades que seguiram o padrão exclusivo, dividido, obtiveram grande avanço tecnológico, ao passo que outras sociedades que permaneceram num sistema onde o homem corria menos riscos, se mantiveram tribais.

Entretanto, a tese que estipula que a mulher ficava reclusa, e que muitas vezes sua expressão social era limada, existindo apenas no próprio meio feminino, numa "sociedade" a parte, essa eu concordo. Mas há uma pergunta inevitável: por que razão as mulheres permaneceram quase 9.000 anos de humanidade documentada, socialmente estabelecida, desempenhando esse papel "recluso"? O que mudou no início desse século, que essa tese foi massificada, onde antes ela (a tese) era propagada apenas por algumas vozes dissidentes? Minha opinião é que, novamente, foi uma questão pragmática. E os principais responsáveis por isso não foram outros senão os próprios homens, mas não como uma concessão, mas sim por uma necessidade. No afã voraz da sociedade de alcançar e desbravar novos horizontes, nós obtivemos excelência tecnológica em diversas frentes. Incluindo na máquina de guerra. E nunca a máquina de guerra foi tão eficiente quanto no início desse século. A morte de milhões de homens produziu um desbalanceamento que atingiu as elites econômicas, e lançar mão da força de produção feminina foi uma escolha óbvia. Incentivar a propagação dessa tese era necessário, para que houvesse uma justificativa plausível para a entrada das mulheres no mercado de trabalho ali desfalcado, e onde antes havia uma divisão do trabalho, ocorreu um acúmulo de funções de ambas as partes. Naturalmente, as mulheres foram as primeiras a sofrer os efeitos desse acúmulo na linha temporal, pelo simples fato de que eram elas que estavam sendo dirigidas ao novo ambiente, o do trabalho. Mas agora, aos homens, também cabe assumir funções que tradicionalmente não eram suas. As regras do jogo mudaram, pois ao capital cabe apenas a expansão, o grande temor do ser humano sob a égide do capital é perder suas conquistas materiais e sua identidade construída sobre esse conhecimento, sua segurança diante do desconhecido. E é por essa razão, entre outras, que o socialismo não emplaca de jeito nenhum.

Hoje, o rendimento de uma família é complementar, para a maioria é impossível ter o que é considerado "padrão" sem que ambos, homem e mulher, juntem suas rendas. Ao mesmo tempo, as mulheres se encontram ressentidas de desempenhar o papel, outrora tido como tradicional, doméstico, uma vez que elas também são obrigadas a trabalhar como os homens trabalham. Naturalmente, elas esperam que nós, homens, também desempenhemos atividades domésticas. Todo esse processo se tornou extenuante para ambos, e a tendência disso é que uma solução de curto prazo, ou seja, o acúmulo de funções para que a máquina econômica não parasse seu giro, gere um problema de longo prazo, ou seja, a diminuição da população, pois um filho é "algo caro demais". Esse processo já é visível nas nações em suposto "bem-estar social", uma terminologia tola. As conseqüências de todo esse imbróglio ainda são imprevisíveis.


SZ – O que pensa sobre homens desempenhando trabalhos tradicionalmente femininos e mulheres desempenhando trabalhos tradicionalmente masculinos?

Paulo Felipe Noronha: Essa é uma preocupação que faz pouco sentido a meu ver, se se parte do pressuposto de que homem e mulher, enquanto sexo e gênero, são essencialmente diferentes. Veja bem, os processos naturais seguem um padrão, ao qual podem ocorrer desvios, mas em geral, o padrão é que tende a se manter. Desse modo, se essa tese estiver correta, e acredito que está, mulheres desempenhando funções masculinas e vice-versa será sempre um cenário limitado. Vejamos, haverá a entrada de mulheres no ambiente militar, mas essa nunca será a profissão preferida das mulheres em geral, de modo que o ambiente militar seja tomado por elas e uma súbita espontaneidade marcial, e os homens expulsos por vias de competitividade pura e simples. O mesmo na construção civil ou na mineração. Do mesmo modo, as mulheres não serão excluídas da função de professoras ou do ambiente de prestação de serviços pelos homens, e subitamente, veremos esses ambientes masculinizados ao extremo. A entrada da mulher no mercado de trabalho significaria, naturalmente, que todas as divisões internas a esse ambiente seriam relaxadas, mas daí a serem completamente subvertidas é forçar a barra, e significaria que a realidade é tão líquida que poderia ser manipulada irrestritamente. Resumindo, acredito numa resposta mais temperada da realidade, e não em cenários apocalípticos.


SZ: Como avalia a formação profissional masculina na atualidade?

Paulo Felipe Noronha: A formação profissional masculina está sofrendo, pois o homem não abandonou ainda determinadas crenças tradicionais por completo, por um lado, e se encontra perdido, sem saber qual seu papel, por outro. É uma geração masculina desorientada, e isso é perigoso, acima de tudo, para aqueles indivíduos com uma vocação para a família, que vêem nisso o caminho para sua felicidade. São homens que negligenciam sua formação, ou que se tornaram condescendentes e lenientes, que não percebem os engodos vendidos pelo discurso politicamente correto, que visa atender apenas ao bem-estar extremo das elites, que vendem o liberalismo enquanto elas mesmas atuam de modo ultraconservador. A verdade é que estão a derrubar o modelo tradicional, pelo qual muitos se fiam, e nesse jogo, já entramos com uma desvantagem. Ou seja, precisamos recuperar território antes de sequer estarmos em condições efetivas de jogar de igual para igual com aqueles que não possuem os mesmos valores que alimentamos. Se esse fosse um campo de guerra, estaríamos em menor número, e a única coisa que vence um exército inimigo em vantagem é uma boa estratégia aliada a uma melhor qualidade intrínseca. Uma formação profissional ótima é um dos elementos que perfazem essa qualidade intrínseca.


SZ: No que apontou anteriormente sobre os homens terem menos possibilidades de estudos avançados que as mulheres, você acredita que na rotina das próximas gerações os cargos de chefia, decisão e melhores rendimentos serão em sua maioria ocupados por mulheres e os cargos de menor autonomia e remuneração serão ocupados por uma maioria masculina?

Paulo Felipe Noronha: É difícil prever até que ponto as mudanças atuais irão se processar antes de uma nova guinada. Atualmente, a tendência é que tanto pela manutenção de costumes, implicitamente, quanto devido às políticas públicas, esse cenário ocorra sim. Em países europeus já é possível observar uma tendência nesse sentido. Por outro lado, é impossível determinar até que ponto os homens irão resistir a isso, se resistirem, e que tipo de concessões as mulheres estarão dispostas a fazer. De qualquer modo, eu desconheço uma sociedade em perfeito equilíbrio, historicamente, e quando se apregoa uma síncope, onde ambos os gêneros se auxiliem mutuamente, é por se ignorar a tendência do ser humano a favorecer o avanço dos iguais em detrimento dos diferentes, sendo que nesse caso, o diferente é o outro sexo. Existem limites para a cooperação e mais importante, compreensão entre os sexos, sempre houve. Mesmo clãs/tribos essencialmente matriarcais tendem a gerar uma concentração de poder, em algum âmbito, na mão das mulheres, e do conflito responsivo à opressão é que resulta algum avanço, de onde se origina o devir (para o bem ou para o mal). Na ausência de conflitos maiores, a tendência acaba sendo a estagnação. Com isso, o homem atual tem que se preparar no nível individual para a tempestade, pois no nível coletivo a coisa já está fora de seu controle.



Seus conselhos e orientações aos jovens e palavras às mulheres:


SZ: Paulo Felipe Noronha, lhe agradeço pela gentileza em compartilhar de suas ideias e experiências e lucida percepção nesta entrevista. Saiba que este simplório espaço virtual sempre estará a sua disposição para o beneficio da boa qualidade de vida dos homens e por efeito das mulheres também. Para finalizar, quais seriam seus conselhos e orientações aos jovens e adolescentes quanto ao tema trabalho? E também poderia dirigir suas palavras às mulheres que por ventura lerem esta entrevista?

Paulo Felipe Noronha: Bom, aos homens, meu conselho mais simples é: não caiam na ladainha politicamente correta de que o valor de alguém não pode ser mensurado por suas conquistas. Seria irracional acreditar nisso. A verdade é que não importa o quão bom ou digno um homem acredite ser, se ele não faz por onde exercer suas supostas boas qualidades, tem no máximo, potencial desperdiçado. Sacrifícios são necessários para que se alcance objetivos como um carro, uma casa, uma família. Hoje, existe uma grande falta de presciência na educação dos jovens, pois a eles se diz "o importante é fazer o que se gosta". Partindo dessa premissa, ninguém trabalharia, sequer, pois trabalhar não é algo que se goste a priori, mesmo que seja num campo prazeroso para o indivíduo. Dos homens sempre foi esperado assumir responsabilidades, e nos tempos atuais, isso cria uma dupla jornada. Não é incomum ver peões de mineradora durante o dia, universitários à noite, que depois terão até dois empregos, isso se a esposa não trabalhar também! Esses, estão no caminho certo, por mais sofrido que seja. Por outro lado, aquele que gasta dias inteiros numa mesinha de bar, bebendo uma "cervejinha", ou que vive na frente do PC, jogando jogos online, está perdendo tempo, que pode ser precioso no futuro. Em suma, não viva na farra, se não quiser ter que recuperar tempo perdido depois, e até mesmo para ter uma boa visão de si mesmo. Pode parecer algo idiota ou banal, mas não abandonar os estudos, e se esforçar para alcançar bons resultados, independente de pressões internas e externas, é um caminho efetivo. A barganha de hoje terá um custo amanhã. São aqueles velhos conselhos que nossos pais dão, com a diferença que hoje muitos deles não dão mais. E sempre ter em mente que todo esse sacrifício tem como função o bem-estar dos filhos, afinal, esse texto é dirigido primordialmente aos que possuem uma vocação para a família. Assim, prover apenas não será o bastante, mas é preciso educar de fato os filhos, transmitir a eles em palavras, e principalmente em exemplos, o máximo de austeridade e empenho que se consiga invocar, caso contrário, aumenta-se o risco de criar um vagabundo.

Às mulheres que leram a entrevista, eu agradeço, e espero que elas compreendam que essa mudança social produz uma pressão grande sobre todos os envolvidos. Muitas estão ansiosas em desmantelar o que acreditam ser uma estrutura social datada, mas essa suposição de que a vida dos homens era mais fácil é uma tremenda bobagem, e se ressentir disso é loucura. Se elas desejam partilhar do mundo profissional (atualmente nem é mais uma questão de desejar ou não, existe uma pressão cultural e institucional nesse sentido, afinal) que o façam por solidariedade e espírito de liberdade, buscar retaliação levará apenas a uma situação de alienação, em que o resultado final e possível é apenas um: amargura.


Paulo Felipe Noronha.


Universo Masculino:

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=122314304

==============================================Símia Zen.

7 comentários:

Jean Carvalho

Excelente entrevista, esclarecedora e coesa, respostas bem dadas, e em síntese preservou o que digifica o corpo e a alma: o trabalho honesto e digno.

Como jovem que anseia por formar família, sei que essa é uma regra da qual não se pode fugir. Não importa muito como o mundo está "novo" e "diferente", as regras sociais não mudaram muito desde o Império Romano e certas regras, continuam existindo, por mais que a hipocrisia social diga que são valores "derrubados".

Símia Zen.

Concordo plenamente com você Jean Carvalho. E o Paulo Felipe Noronha fez mesmo uma excelente explanação sobre o trabalho masculino, eu diria até que em muitos trechos sua explanação, por efeito, se estende ao trabalho feminino também.

Alberto

Excelente entrevista, aliás blog incrível, estão de parabéns.

Ricardo

Acho que o entrevistado se preocupou mais em escrever bonito e se mostrar culto do que responder as perguntas com objetividade, tornando a entrevista chata. Em algumas respostas ele "encheu linguiça" e fugiu totalmente do que foi perguntado.

Araú Araújo

Para mim a entrevista de Paulo Felipe mandou muito bem como sempre. Sempre acompanhei suas postagens pelo o orkut e tive sempre imensa admiração.
Soube explicar de maneira aberta e coerente os mais diversos pontos de vista.
Uma pena que certas pessoas que não tem nenhum entendimento das mais diversas teorias e não tem nenhum domínio sobre o léxico culto venha a criticar de maneira "chula" com "encheu linguiça" e que fugiu "totalmente do que foi perguntado" como se as perguntas tivessem respostas simples como 2+2=4.
Gostaria que o mesmo citasse os pontos em que Paulo fugiu do que foi perguntado.
Mas como nem Cristo agradou a todos, fica a critica.
Parabéns pela entrevista.

Ricardo

Bom, n vou reler toda a entrevista para afirmar em quais pontos eles fugiu.. Mas antes de querer dar uma de intelectual, saiba que as críticas podem ser vir para nós amadurecermos.. E ao cara chato que quer dar uma de culto aí em cima, pau no seu cu (fica a dica)

Araú Araújo

Não vai reler porque você sofre de um mal muito comum na maioria das massas ignorantes e boçais desse país que é o analfabetismo funcional.
E pelo visto é da mais ralé possível, pois precisa apelar para palavriado de baixo calão para compensar a falta de argumento para refutar.
Pessoa que vem com "pau no seu cu" para mim é caso de homossexual no ultimo grau da inrustidez.
Mas já que você faz tanta questão vou me rebaixar ao seu nível inferior de veado retardado: Desejo do fundo da minha alma que seu cu pegue fogo e um jumento com uns 2 metros de caralho te enrabe seu filho duma puta arregaçada do caralho.
Espero que tenha "ficado a dica" também.

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