Entrevista com Marcos Carvalho: A moral como escopo na construção familiar

O Dia do Homem, um dia muito especial para as mulheres...
principalmente para as mães, filhas, irmãs, esposas, parentas,
namoradas , amigas e parceiras dos homens.


Fraternas,
Festejando o Dia do Homem inauguramos as nossas entrevistas com os homens com o jovem advogado Marcos Carvalho, mineiro de Belo Horizonte, 26 anos, autor do blogger “The Mirror”, moderador da comunidade do Orkut de cunho masculino “Nessahan Alita” colaborador do site Reflexões Masculinas como autor de textos na tematica masculina benéficos qualidade moral do ser humano.


O Marcos Carvalho:

SZ: Em quais espaços virtuais atua?
Marcos Carvalho: Atualmente sou moderador da comunidade feita em homenagem ao autor Nessahan Alita (pseudônimo), que possui o próprio nome do autor; também participo com alguma regularidade da comunidade Reflexões Masculinas.
Além das comunidades tenho um blog pessoal - The Mirror: http://marcosgtr.blogspot.com - que criei há alguns anos para abrigar escritos que já tinha feito, e também para ocasionalmente compartilhar algum texto, resumo de algum livro ou mesmo reflexões que gosto de registrar esporadicamente.

SZ: Qual é a sua Formação acadêmica?
Marcos Carvalho: Sou formado em Direito pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (Universidade FUMEC) e sou especializado em Direito do Trabalho atuando na área há alguns anos; paralelamente estudo para o ofício de Procurador do Ministério Público do Trabalho da 3ª Região.
Além da ocupação com as leis, dedico parte do meu tempo a estudos autônomos nos campos da Filosofia, Psicologia Analítica, Psicanálise Lacaniana e Junguiana. Ainda, como hobby tenho interesse em assuntos como política, economia, cultura oriental e mitologia nórdica. Sou apaixonado por música e cheguei a quase concluir cursos de graduação em guitarra e teoria musical, que hoje pratico e estudo nas horas vagas.

SZ: Como foi sua educação familiar?
Marcos Carvalho: Creio que minha educação familiar foi a mais convencional para os padrões brasileiros atuais. Fui criado por pai e mãe católicos, mas não praticantes (o que para mim é quase a mesma coisa de não ter religião alguma); que se separaram quando eu ainda era muito novo. Sequer me lembro com clareza de vê-los juntos, mas tive uma infância relativamente tranquila, sendo educado mais na base de valores sociais, como não roubar, não ser desonesto, não mentir, do que em valores eminentemente morais; como os que o cristianismo apregoa. Entretanto, aos 17 anos tive contato com a Igreja Evangélica, onde frequentei ininterruptamente até os 24 anos. Foi nesse ínterim que foram construídas e sedimentadas as verdadeiras bases morais que sigo e guardo até os dias de hoje.

SZ: Qual é seu posicionamento político diante conjuntura atual da realidade social brasileira?
Marcos Carvalho: Eu não costumo defender posições ou partidos políticos de forma absoluta. Procuro avaliar o cenário político vigente e criticar pessoas, condutas e ideias isoladas; não me agrada a ideia de seguir um partido ou instituição e abraçar todas a sua agenda.
Sou a favor da economia de mercado, da democracia e da livre iniciativa. Aparentemente uma posição majoritária, mas no Brasil atual, não passa de um reflexo distorcido em uma vidraça enfumaçada. Nunca vivemos um período político tão obscuro nesse país, onde aparentemente temos liberdade de opinião, expressão e manifestação cultural e religiosa, mas na prática somos censurados, sofremos patrulhamento ideológico, repressão social velada e somos constantemente privados de fatos e decisões fundamentais no cenário político.
Qualquer democrático deveria ter oposição e situação, direita e esquerda. Mas no Brasil não há oposição à esquerda que reina absoluta, tendo na mão os maiores empresários do país, todos os órgãos da grande mídia, e ainda consegue angariar simpatia pública através de esmolas no velho sistema do pão e circo, agora mais glamoroso: TV a cabo e cesta-básica. O estado arroga para si cada vez mais poder e controle sobre a vida do cidadão, querendo legislar sobre como o cidadão deve pensar, escolher, se pode ou não ter armas em casa, fumar ou dar uma palmada para educar seus filhos. É como ver o filme da Praça Vermelha de trás pra frente em clima tropical. Mas enquanto não há outro jeito, vou ficando por aqui e tentando abrir tantos olhos quanto for possível.

SZ: Como foi o processo de desenvolvimento do seu senso ético-moral?
Marcos Carvalho: A coluna fundamental da minha formação moral é a ética cristã. Já tive a oportunidade de participar e até mesmo ministrar estudos e cursos sobre o assunto, mas nem sempre com temas diretamente abordados ou estudados em cultos religiosos. Essas práticas vinham a reforçar e incrementar os assuntos e temas de meus estudos pessoais, e claro, através da troca de informações e experiências; bem como em diálogos com diversas pessoas altamente qualificadas (formal ou informalmente) no tema.
Essa base veio a ser preenchida e estendida pelos estudos nos campos da filosofia, sociologia, e principalmente de obras orientais, que trazem valores como honra e dignidade, abordados de uma forma muito peculiar, praticamente desconhecidos no mundo ocidental e quase que irremediavelmente execrados do próprio mundo oriental.
Algo que creio ser importante destacar, é que em muitos campos do conhecimento, principalmente nas ciências humanas, muitas das pessoas mais sábias e que possuem conhecimento e didática da maior qualidade, não possuem qualificação acadêmica ou formal; mas são aqueles que buscaram por si mesmas o caminho para a verdadeira formação intelectual.

SZ: Como se define, como ser humano, homem e cidadão?
Marcos Carvalho: Penso ser difícil criar uma definição para si; posso apenas descrever como me situo no contexto em que vivo e observo. Creio ser alguém bastante tranquilo, observador; me expressando com eloquência quando necessário. Muitas vezes discreto e reservado, principalmente até que me sinta à vontade ou bem situado no ambiente em que estiver. Tenho uma sede profunda pelo conhecimento da verdade e da sinceridade; busco aprimoramento em diversas áreas a todo o tempo, ainda que entenda ser impossível atingir uma meta ou um ideal quando se quer chegar ao mais longe possível na caminhada rumo à sabedoria e compreensão de questões fundamentais. Busco praticar isso de maneira mais conservadora; buscando primeiramente a análise e a compreensão sobre novas ideias e comportamentos. Sou do tipo que busco opiniões e comparo bastante as informações antes de tomá-las como ponto de partida para a construção de novas ideias e opiniões. É o tipo de pessoa que prefere se aprofundar nas coisas e conhecê-las à fundo e verdadeiramente, em contraponto àquela que está sempre em busca de novas experiências, emoções e sensações. Seria como o cliente que almoça sempre no mesmo restaurante, e aos poucos conhece todo o cardápio, já fez amizade com os funcionários, conhece a cozinha e está familiarizado com aquilo, e não o que está sempre querendo conhecer novos lugares e pessoas.
Sou um homem que busca a cada dia cultivar valores e me inspirar no sentido de não me amoldar ao padrão relativizado que hoje é tido como estereótipo. Acredito que certas virtudes devem ser buscadas por todos os homens em qualquer época ou contexto. É o que chamo de fibra moral; que é tão rara de se ver, mas que é de enorme valor prático quando utilizada.
Como cidadão me considero consciente de meus direitos e deveres, principalmente dos que deveriam e não me são imputados; questiono frequentemente as obrigações (principalmente as não escritas) que são impostas aos cidadãos de hoje, pois creio que o Direito é fruto da evolução social, que é ditada pela ordenação moral vigente em cada geração. E esse pensamento foi o que me trouxe empatia com temas que circundam o Direito Positivo, como descrevi anteriormente que estudo como hobby.
Minha definição como ser humano é de um aprendiz, de quem reconhece seu potencial, e ao mesmo tempo da necessidade que há na busca constante por crescimento e conhecimento; para que dessa forma floresçam virtudes que tornam a vida um manancial de luz e oportunidades utilizadas com sabedoria e prudência; tornando-a imensamente desejável e rica.

Atuação a favor da moralidade amorosa masculina:

SZ: Quando e como foi o início de sua trajetória neste propósito?
Marcos Carvalho: Creio que a atuação moral vem com a consciência moral. Assim que nos entendemos como seres morais e inseridos na sociedade, já estamos atuando e construindo parte do processo social, modificando-o mesmo em pequenas ações.
Mas para pontuar um momento de maior expressão nesse sentido eu diria que foi no meu quarto ano do curso de Direito, no segundo semestre de 2007.
Nesse semestre tive duas aulas brilhantes com mestres de conhecimento e sabedoria ímpares, e que, curiosamente, não abordaram a disciplina programada para as aulas, passando a discorrer sobre temas mais abrangentes sobre o ser humano e seu papel na sociedade. Aquelas aulas foram como um big-bang na minha mente; pois passei a enxergar a importância de se investigar temas que me permitiram enveredar por diversas áreas do conhecimento até que tive contato com livros de filosofia e sociologia, que abordavam temas relativos à moral e ocasionalmente ao amor, a relacionamentos, sentimentos, etc.
É importante esclarecer que nessa época eu já possuía uma formação espiritual e moral relativamente bem sedimentada; de forma que os estudos complementares apenas abriram meus olhos quanto à real importância dessas questões, bem como a consequente obrigação
(auto imputada) de produzir com aquele conhecimento, efeitos práticos e consequentemente um efeito reflexo sobre quem me cercava, se interessava ou buscava por eles.
Foi aí que toda a minha formação cristã encontrou respaldo e ganhou terreno. Além de encontrar um sentido para buscar a Deus e a moral cristã, eu começava a entender o porquê da aplicação prática de tudo aquilo que estudava. As peças iam se encaixando à medida em que o contexto e o papel da família e da necessidade imperiosa de entendimento entre homens e mulheres culminaria naturalmente na manifestação de todos aqueles efeitos e interações de que tanto eu lia e ouvia falar.
A partir daí o tempo foi lapidando conceitos, moldando ideais e fortalecendo a compreensão de experiências vividas e partilhadas.

SZ: Conte-nos mais sobre sua trajetória nas questões masculinas no campo virtual?
Marcos Carvalho: Minha atividade no meio virtual especificamente em relação a essas questões foi no ano de 2008, algum tempo depois de ter iniciado estudos sobre o papel do homem nos relacionamentos e na sociedade, inicialmente lendo debates e discussões sobre as obras que eu conhecia, posteriormente opinando em algumas questões e adquirindo mais material para estudo e debate. E essa atividade perdura até a atualidade.
Atualmente participo das comunidades supracitadas, realizo leituras habituais de vários blogs, sites e livros sobre o assunto; e claro, acompanho leis e projetos que são feitos e podem alterar e afetar diretamente o homem de forma mais prática e direta possível. Isso acaba gerando diversos debates, trocas de ideias tanto virtual como pessoalmente, o que gera ainda mais questões e oportunidades de atuação de forma prática.
É inevitável também que algum amigo, parente ou pessoa próxima venha buscar uma ideia, um conselho, uma orientação tanto no campo amoroso quanto em questões atuais referentes às tais questões que circundam o universo masculino.
Sempre digo que não adianta buscar apenas fontes de leitura e estudo sobre um assunto isolado, pois necessariamente outros tantos o influenciam e modificam diretamente; por isso acabei adotando como ocupação, o estudo de temas que jamais pensei me interessar anteriormente.

SZ: Quais são seus referenciais e base teórica sobre moralidade amorosa masculina?
Marcos Carvalho: É difícil definir especificamente alguns referenciais, pois pauto o valor de uma doutrina ou teoria pelo efeito prático que ela apresenta quando aplicada.
Nesse sentido posso dizer que boa parte dos homens (e mulheres) mais realizados qualitativamente no campo amoroso que conheço de perto, são os que procuram sinceramente seguir o padrão Bíblico de relacionamento. No entanto, aprendi também (e os leitores provavelmente endossarão essa conclusão), que não basta que o homem, a mulher ou o casal busquem essa base se restringindo somente ao estudo da Bíblia, ou caso contrário não teríamos tantos exemplos infelizes de fieis abandonando as igrejas. Creio que o desenvolvimento e equilíbrio humano advenham de uma busca constante e principalmente sincera de tais valores e bases morais. Para tanto, creio que as demais fontes sejam de enorme importância no processo de estudo e aplicação das bases. Nesse sentido, os autores cujas obras mais me impressionaram foram: Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, Nessahan Alita, Martin Van Creveld, Olavo de Carvalho, Esther Villar, e diversos autores de obras esparsas, blogs e sites com que tive contato ao longo dos anos.

SZ: Quais foram os motivos que o levaram a atuar nas questões masculinas e correlatas amorosas no campo virtual?
Marcos Carvalho: Nesse caso foi a forma mais clichê (e talvez mais eficiente possível); necessidade e curiosidade. Na época em que comecei a me aprofundar nesses estudos, entrei em comunidades relacionadas a livros que estava lendo ou que guardavam identidade com situações que eu havia vivido e assuntos pelos quais eu buscava compreensão e aprofundamento. Acabei encontrando pessoas com quem me identifiquei e que me acrescentaram muito, então foi um processo bem natural; nunca fui muito de começar a me envolver em certo grupo e depois mudar radicalmente, me afastando dele; tanto que as comunidades em que primeiro ingressei enquanto me envolvia no tema, são as mesmas das quais faço parte até hoje.
Por outro lado sempre aconselho pessoas que creio estarem preparadas, para que procurem esse tipo de atividade, como a discussão, troca de ideias e experiências, com fulcro em fortalecer e confirmar certas convicções, e reformar e repensar outras.

Moral e Família:


SZ: Qual é seu conceito de família?
Marcos Carvalho: É importante que fique claro o conceito de família que considero, para que o termo seja corretamente compreendido ao longo das demais perguntas.
Entendo como família a união de pessoas de sexo oposto, com o fim de apoio mútuo e constante, compromisso e fidelidade, e principalmente, possibilidade teórica de reprodução.
Todas as demais formas de relacionamento, ainda que venham ou não a se tornar uma família futuramente, não se enquadram nesse conceito; podendo ser vistas como uniões afetivas, relacionamentos pura e simplesmente, entre outros.
Vale frisar que a própria letra da Constituição Federal traz a família como base da sociedade, merecendo proteção especial do Estado, no caput de seu art. 226. E logo adiante, no seu § 5º, explicita que os deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. Que fique claro que não estou aqui, dizendo que considero repugnante ou errada a união entre pessoas do mesmo sexo, ou que essa prática mereça ser combatida. No entanto, não pode e não deve ser equiparada à união entre o homem e a mulher por motivos que discorrerei mais adiante.
É comum ouvirmos hoje, principalmente no meio acadêmico e jurídico, sobre as tais "novas formas de organização familiar"; percebemos uma forte pressão do governo, da grande mídia e de boa parte dos formadores de opinião, para que o conceito de família seja ampliado e relativizado. Presente também na Constituição de 88, está a figura da união estável entre homem e mulher como entidade familiar; relação antes conhecida como concubinato, que recebeu amparo legal.
Ocorreu então, que ao longo dos anos, os movimentos minoritários que buscavam a equiparação da união homossexual à heterossexual, começaram a distorcer esse conceito para conseguir equiparação de direitos matrimoniais e sucessórios, aludindo a União Estável como um conceito misto, transformando uma figura de linguagem em um conceito literal. E através de representatividades minoritárias nas câmaras legislativas, passaram a alterar conceitos que naturalmente devem emanar da sociedade. Não se define família ou se constrói moralidade através de decretos.
Ora, sabe-se que a relação matrimonial sempre teve como base a diferenciação sexual e a reprodução; condições sine qua non para a manutenção e constituição de uma família, onde existem claras atribuições de direitos conjugais. Temos como exemplo a possibilidade da separação em virtude do descumprimento de deveres conjugais; tão comum no direito de família. Numa relação homossexual não há possibilidade de definir e distinguir deveres conjugais, se tornando, portanto, impossível que se estabeleçam e sejam resguardados os direitos conjugais, tornando impossível a manutenção familiar em seu conceito puro.
É importante frisar, para concluir, que os conceitos e suas consequências lógicas listadas acima fazem parte das definições que estruturaram toda a lógica jurídica por trás da legislação atual; ainda que seja possível visualizar diversas relativizações e distorções basilares nessa estrutura nos últimos anos, com julgados que desrespeitam esses conceitos, vindos até mesmo do mais alto escalão do Poder Judiciário. Mas essa é outra questão que foge da nossa análise, e necessitaria de um outro espaço específico para sua elaboração.

SZ: Nos dê um panorama da família atualmente no seu ponto de vista?
Marcos Carvalho: Por outro lado, para além do conceito técnico de família e matrimônio, temos sua manifestação na prática social, e seu desenvolvimento na consciência da sociedade e posteriormente em sua sedimentação através de textos legais.
Entendo que a ideia etérea de família já esteja demasiadamente fragilizada de maneira global; devido a causas semelhantes às narradas acima, e por iniciativa e para o atendimento de interesses de um mesmo grupo minoritário que possui interesse na desestruturação e descrédito da instituição familiar.
Vemos por todos os lados, desde em conversas de bar, propagandas no rádio e na tv, outdoors e até mesmo nos centros de formação intelectual, clichês que reduzem e ridicularizam a importância da família, relativizam seu conceito, seu objetivo. Todos nós conhecemos pessoas convictas de sua solteirice espalhando com enorme orgulho, sua decisão de não constituir família e viver felizes "no mercado". Não que haja nenhum problema em viver só, e muito menos em estar só. O que questiono foram os motivos que levaram essas pessoas a tomar essa decisão. Quase sempre o que vai contra a família (coletivo), vem em favor de si mesmo, só individual. Essa mentalidade está impregnada de forma tão profunda no subconsciente popular, que muitos sequer param pra pensar seriamente na implicação disso em longo prazo e de forma generalizada.
Um dos maiores motivos pelo qual citei Immanuel Kant em minhas referências em relação a este tema, é pelo fato de que nunca a aplicação do Imperativo Categórico Kantiano repercute de forma tão viva quanto no tema familiar.
O imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas, dentre elas:
O imperativo universal: "A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam".
O que quero dizer é que esse "vírus" que preza sempre por uma vida cada vez mais cômoda, sem sofrimentos e voltada para o prazer pessoal, é sem dúvida um dos que ataca a sociedade atual causando maiores estragos.
É esse traço de hedonismo misturado com comodismo e busca desenfreada por auto realização, que mais afasta as pessoas do equilíbrio e de verdadeira formação moral e humana. Uma pessoa que condiciona sua existência à satisfação de sonhos e desejos pessoais já desistiu da busca pela verdade e de qualquer possibilidade de plenitude interior; enquanto que as pessoas que esperam ou usam as outras para o mesmo fim, são como parasitas ou psicopatas sociais. São como almas não desenvolvidas ou profundamente doentes.
Para qualquer um que se disponha a estudar, ainda que superficialmente a história das civilizações, vai perceber claramente que as sociedades mais prósperas e que gozaram de progresso, desenvolvimento e evolução, eram pautadas na família e no patriarcalismo. Não houve uma sociedade sequer na história humana que prosperou e atingiu grandes feitos que não estivesse estruturada na família e em uma religião predominante.
Todas as outras que existiram fora destes pilares subsistiram apenas num curto espaço de tempo entre uma e outra grande sociedade que apresentou tais pressupostos.
É nesse ponto que a moral e a família se unem. Não há estrutura familiar que subsista sem uma forte base moral. Assim como o nosso sistema econômico não está resistindo à constante degradação moral e espiritual que a que o mundo está se impondo. É por esta razão que é impensável discorrer sobre o panorama familiar atual sem abordar juntamente a questão da moral e da religião.
Nesse aspecto, primeiro é crucial que se defina também o conceito de religião; que nos moldes atuais já é completamente desconhecido ou distorcido pela opinião popular. É sempre um assunto que causa notório desconforto ou aversão quando trazido à pauta.
Quase todos (até mesmo entre religiosos), pensam que religião é uma questão de fé. Creem que não passa de uma doutrina, em que pessoas escolhem ou não acreditar tendo ou não tendo razão para isso. Nenhuma religião é isso.
Por exemplo: entre o surgimento do cristianismo e a formação e a formulação da doutrina cristã se passaram vários séculos. Portanto, o cristianismo não é uma doutrina; ele surgiu através de uma série de acontecimentos históricos, ao qual, gradativamente foram sendo agrupados e organizados na forma de uma interpretação doutrinária. E é exatamente por se tratarem de acontecimentos históricos, que concluímos que a religião é o mais importante elemento criador de uma civilização. É por esse motivo que nunca ocorreu ou vai ocorrer a possibilidade de uma pessoa ou um grupo de pessoas criarem uma civilização e muito menos uma religião por si mesmas. Podem vir a produzir regimes econômicos, políticos, e aberrações históricas como foram a sociedade liberal vinda a revolução francesa, o socialismo, o nazismo, etc.; cujas consequências reais, estamos cansados de saber quais foram.
Pode-se dizer então, que a mentalidade de querer criar uma sociedade do zero, com ideais e moral própria, só vai gerar confusão, tragédia e genocídio; como sempre aconteceu. E é essa mesma mentalidade de querer reformar o que já é, o que foi criado, dito e feito, que tem bagunçado tanto a civilização moderna, e uma de suas principais vertentes de ataque é a família, em seu conceito puro e básico vinda de moral judaico-cristã, que construiu e estruturou nossa base civilizacional desde sua origem.

SZ: Qual é a causa deste panorama?
Marcos Carvalho: Como causas para esse estado crônico atual da família, podemos apontar diversos movimentos políticos, ideais econômicos e principalmente religiosos, que visam, como foi dito, enfraquecer as principais bases culturais da civilização ocidental, que são:
1- Bases jurídicas (vinda do Direito Romano)
2- Patriotismo (vindo da filosofia grega)
3- Moral judaico-cristã (de onde se aduz a instituição familiar patriarcal)
Em suma: as bases jurídicas já se tornaram imensamente maleáveis e inseguras, como apontado na resposta da primeira pergunta, com leis contraditórias, conceitos que não resistem a decretos legislativos e jamais são levadas a plebiscito ou referendo.
O patriotismo foi derrubado pelo multiculturalismo e globalização massificada. Resta então, acabar com a moral judaico-cristã, que tem no modelo familiar, sua principal base. Acabando com a família, só haverão pessoas soltas no mundo, sem terem a quem recorrer, no que acreditar ou quem as instrua. Sem família não há como legar ou proteger o patrimônio, que é lentamente dissolvido em pensões, impostos, tributos e contribuições sociais. É por essa razão que a solução para boa parte das mazelas sociais é o fortalecimento do conceito e da ideia de família; sem a qual, qualquer sociedade fica a mercê de invasores ou de favores do próprio estado. E não é preciso pensar muito para concluir o motivo do governo ser o maior patrocinador e defensor de causas como o aborto, o feminismo, os movimentos gayzistas, política de desarmamento, indução comportamental através do politicamente correto e tantos outros, que fragmentam o poder da sociedade e arroga para si as rédeas da vida privada do cidadão, e consequentemente toda a autonomia política nacional. Essas medidas são fruto de décadas de planejamento e experimentação prática, e não apenas a consequência natural de uma suposta evolução social e de valores, como pensa a maioria da população. Novamente, esse é o tipo de questão que jamais vai ser encorajada ou credibilizada pelos veículos populares ou pelo governo, que só tem a ganhar com a dependência e enfraquecimento da sociedade.
SZ: Quais são os efeitos disso?
Marcos Carvalho: Como decorrência lógica das causas supracitadas, temos o que vemos por aí. Pessoas cada vez mais perdidas, mais confusas, mais inseguras, mais egoístas e menos conscientes da realidade que é desenhada sob seus pés. Vemos casamentos cada vez menos duradouros, maior índice de gravidez não planejada, explosão nos índices de contágios por doenças venéreas, casamentos destruídos (ainda que não anulados judicialmente). E o resto é como efeito-dominó: as consequências vão criando outras causas, que vão criando outras consequências. Superabundam também pesquisas relacionando estabilidade, durabilidade e realização dentro do casamento com a quantidade de parceiros sexuais que a mulher teve antes de se casar. Ao passo que vemos pessoas sonhando com uniões prosperar e frutíferas, enquanto levam à risca as máximas de aproveitar a vida sem responsabilidade ou pensar no futuro. Não há mágica nisso; é uma certeza quase matemática: o que somos hoje define o que seremos e teremos amanhã. O que não pode ser mais simples se torna tema para centenas de obras literárias de autoajuda numa sociedade carente de bases morais. O desejo não vincula a realidade; a expectativa não se traduz em realização. É muito simples.
A questão que deve ser observada aqui é que muitas vezes nos deparamos com graves problemas sociais que são frutos do descrédito da instituição familiar e não nos damos conta. Quando a própria Constituição da República diz que a família é a base da sociedade, parece uma mera formalidade; mas não paramos para considerar que os textos fundamentais de cada sociedade são construídos após séculos de amadurecimento e experimento de ideias e vivência prática. E repetidamente, os maiores problemas ocorrem quando as bases dos fundadores são esquecidas, relativizadas ou abandonadas. Vale lembrar também, que nosso país é um reflexo atrasado da Europa e dos EUA em certas questões; e toda essa degradação moral e perseguição (ainda que velada) religiosa já trouxeram consequências devastadoras tanto para a economia, quanto para a política e principalmente para a estrutura social desses países. E ainda assim, continuamos a comprar baús vazios desses lugares. Nesse aspecto a falta é no incentivo ao estudo, ausência de conteúdo nas Universidades Federais, cujas faculdades de ciências humanas se tornaram centro de militância partidária. Não há incentivo à verdadeira informação, a despeito de cultura inútil, entretenimento vazio; que são outras mazelas sanáveis por uma estruturação do núcleo familiar.

SZ: Quais são as possíveis soluções para o bem estar familiar?
Marcos Carvalho: Para que o bem estar familiar exista, primeiro é necessário que haja um terreno fértil para que ele se instale. O esforço para construir uma família saudável dentro de um ambiente tão nocivo e inóspito quanto o atual chega a ser no mínimo desanimador. É preciso examinar cuidadosamente o processo histórico e localizar onde começamos a errar. Quais foram os pontos principais que estruturam os relacionamentos que foram quebrados e deixados de lado. Mas se tem uma coisa que eu não vejo atualmente é pessoas que se preocupam em olhar para trás. É cada vez mais comodidade, tecnologia, e ironicamente, menos tempo; e menos interesse. A compreensão de si, bem como o exame dos próprios erros para que não se repitam é algo raríssimo de se ver. Quem dirá, fazer isso a nível mundial e histórico. Isso para não mencionar o desinteresse obstinado e proposital de reverter esse quadro pelas pessoas e instituições que mais deveriam se ocupar e investir tempo e recursos nisso. Portanto, talvez o melhor mesmo seja se concentrar em primeiro mudar a si, depois o mundo. As pessoas estão muito ocupadas investindo no seu futuro emprego, na sua ascensão social, nos bens que desejam possuir, no respeito que esperam angariar com essas coisas; ninguém tem tempo para reciclar antigas raízes podres. É mais fácil jogá-las na pia e ligar o triturador. Que venha o novo, o inusitado, o surpreendente!
Agora sim é possível me restringir a questões mais específicas e próprias de um relacionamento.
Como já foi dito, acredito nos valores Bíblicos para a família e relacionamentos. E em quase que na totalidade dos diálogos, quando encontro oposição a eles, é causada pelo franco desconhecimento dos reais valores e atribuições para ambas as partes de um relacionamento. Mas na realidade, ainda que na prática seja mais complicado, na teoria é bem simples. E curiosamente, coincidência ou não, quase que na totalidade dos casamentos estabilizados e felizes (onde eu conhecia a família o suficiente pra me certificar disso) que observei, as mesmas bases principais e valores comuns eram buscados e praticados pelo casal, estejam eles fazendo isso por questões religiosas ou não.
É complicado falar sobre algo tão plural e que pode variar sob tantos aspectos quanto comportamento, principalmente num contexto mais específico como num relacionamento ou casamento. Mas ainda assim existem particularidades que quase sempre são notadas em homens e mulheres que geram problemas que costumam perdurar por anos, muitas vezes, durante por toda a união do casal.
A grande diferença que vejo na minha visão e na de tantos psicólogos, terapeutas e conselheiros, é a de que a maioria deles costuma aconselhar o casal a ceder ou se anular a certo ponto até que o convívio seja suportável. Na minha visão se o casamento é suportável, convivível, ele é também terminável. Um casamento não pode ser um fardo, não tem que ser assim. A reforma de si é impreterível para que a reforma do casal possa acontecer. Portanto, logicamente, existem diversas uniões que já começam fracassadas na sua constituição. Quando se finge ser algo ou se suprime verdades importantes para agradar ao outro, está se criando um problema que pode ser irremediável (a menos que você se contente em ceder e ter um fardo conjugal).
É aí que a parte da auto avaliação e conhecimento prévio entra. Alguém só está preparado para se unir a outra pessoa, quando está completa sem ela. Nunca concordei com a ideia de que duas pessoas se complementam, se somam. Creio que elas se multiplicam. E “1” só pode se tornar dois se ele for completo, não se for metade. Meio vezes meio não formam “2”. Alguém que não sabe o que é, não pode saber o que quer e o que busca, quanto mais quem quer e quem busca.
Após essa etapa vem todas aquelas questões cotidianas de concessões e renúncias saudáveis, que viabilizam a vida a dois. E somente pessoas com o interior preparado ao longo de toda a vida estão preparadas para encarar essa dificuldade. É muito fácil no contexto atual pensar em casamento quando o divórcio é tão comum. Pessoas se unem de noite e se separam de dia. Isso não é casamento, é apenas a tentativa tola de preencher uma carência, um vazio. E não se preenche o vazio com outras pessoas, no máximo, substitui-se alguns sentimentos por outros mais fracos ainda. Portanto a mudança do contexto social e psicológico ao encarar o termo casamento e família é a mudança fundamental que devem acontecer. E consequentemente as pessoas serão criadas e preparadas melhor para entender e lidar com essa questão.


Conselhos e orientações aos jovens e palavras as mulheres:

Símia Zen.: Marcos Carvalho, muito obrigada por sua generosidade em compartilhar nesta entrevista suas ideias e posturas positivas. Saiba que este simplório espaço virtual sempre estará aberto a sua valorosa presença atuante e solidaria ao bem estar dos homens e mulheres que queiram viver e conviver de forma saudável física, psicológica, espiritual, moral e socialmente.
E para finalizar, poderia dar seus conselhos e orientações aos jovens e palavras às mulheres que por ventura lerem esta entrevista?
Marcos Carvalho: Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Símia Zen pela oportunidade de conceder essa entrevista e manifestar minha intenção de que ela seja de imenso proveito prático para todos os leitores e leitoras.
Creio que a forma como conduzi e desenvolvi o raciocínio diante das perguntas pode ter soado como uma ligeira (ou imensa) "fuga" do assunto principal proposto.
Eu poderia citar aqui questões mais restritas e abrangentes como discutir as dificuldades que os casais têm dentro do relacionamento, discorrer sobre várias mazelas que as famílias atuais têm enfrentado nesse contexto cultural, e pormenorizar algumas das consequências de mais fácil percepção dentro desse contexto; mas creio que apresentar um quadro mais abrangente e sua solução, seja de maior proveito prático para os leitores dessa entrevista. O desenvolvimento pessoal e consequente fortalecimento e multiplicação de toda essa potencialidade através da família é o meio mais eficaz de combater de uma só vez esse emaranhado de complicações e dificuldades que um ser sozinho vai encontrar ao longo da vida.
Como últimas palavras, devo dizer que se conselho fosse bom, seria vendido. Mas creio que não custa nada pensar a respeito:
Reflitam sempre sobre o que querem para si. É importante antes de se envolver com outra pessoa, primeiro saber o que você busca com isso. Nada de clichês como: só quero fazer outra pessoa feliz; sabemos que isso na prática é balela. Aconselho que após descobrirem o que desejam realizar, que sejam maximamente coerentes dentro disso. Primeiramente coerentes consigo mesmos (as). Mentir para si é o maior crime que podemos cometer. E quando for possível enxergar a verdade interior, busque ser fiel ao que você quer se tornar. Se procura alguém com qualidades e características específicas, pague o preço de ser a pessoa que alguém com essas qualidades vai buscar e merecer. Acostumem-se a pagar um preço proporcional à magnitude de seus objetivos. Sequer ter uma família estruturada, filhos bem criados, um cônjuge feliz, primeiramente, invista nisso. Não comprem mentiras lavadas ou bem maquiadas como é tão comum vermos hoje em dia; não pense que vivendo a máxima do "cada dia com seus problemas" ou "carpe diem", irão conseguir resultados diferentes dos que tanto vemos por aí. Investir tempo em coisas que duram a vida inteira é muito mais sábio que cuidar somente de satisfações e sentimentos momentâneos.
Vale a pena abrir mão de algumas regalias ou prazeres para construir algo concreto que tem maiores chances de perdurar até que deixemos esse mundo. E por último: não acreditem em verdades prontas, estudem, investiguem, questionem.
Mulheres: Reaprendam a se valorizar e se respeitar. Parem de se fazer e oferecer como um objeto de uso e consumo, de se expor como algo de tão pequeno valor como uma sensação passageira. Se você se veste, se porta e age como um objeto, é assim que será vista e naturalmente usada e depois descartada.
Deixem de lado tantos desejos, sonhos e ilusões e acreditem no que é real, no que vale a pena ser buscado. Acima de tudo, busquem a sabedoria e à verdade.
Aprendam a valorizar o homem. Entendam que ser submissa não é ser inferior; que servir, não é menor do que mandar. Saibam que os melhores homens só são os melhores, pois tem ao lado deles uma mulher companheira, sábia, humilde, que o incentiva, o encoraja e sabe tirar o que há de melhor nele. E não uma que o pune por ser homem, que sempre quer rivalizar, diminuir e rebaixar seu companheiro para parecer melhor. A maior virtude da mulher é saber trazer paz ao seu lar.
Homens: Usem com sabedoria a autoridade que Deus lhes conferiu sobre a família. Não façam como os tolos que usaram dela para subjugar suas mulheres e fazer crescer nelas esse sentimento de revolta que culminou com tantos estragos para as famílias e a sociedade. Amem suas mulheres como Jesus amou a Igreja, e façam isso valer. Não use a confiança que sua mulher lhe conferiu para trair, mentir, manipular, rebaixar. Ao contrário, faça dessa chance algo que vai lhe trazer o maior dos tesouros. Pois não há homem mais feliz que aquele que encontra uma mulher sábia.
Essas palavras podem soar inocentes ou até mesmo utópicas, tamanha destruição que foi imposta à nossa consciência, mas não importa o que pensem disso. O que importa é que vale a pena acreditar nelas.
Que Deus abençoe a todos vocês e traga compreensão, discernimento e sabedoria a cada um que leu estas palavras.
Ficarei feliz em esclarecer quaisquer dúvidas relativas a este ou outros temas por e-mail, ou através do meu blog.

Até uma próxima!
Marcos Carvalho.

=============================Símia Zen.

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